Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro- Milhares de pessoas participaram hoje (16) da 5ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, na Orla da Copacabana, zona sul do Rio. O objetivo da caminhada era pedir o fim do preconceito e de atos de violência contra praticantes ou templos no país, além de cobrar políticas públicas para combater a discriminação.
Como o protesto coincide com o período eleitoral, a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (Ccir), proponente da marcha, aproveitou para reforçar que o estado é desvinculado de qualquer religião e que os representantes escolhidos para cargos públicos “não podem fazer valer sua lógica religiosa”, disse o interlocutor, Ivanir dos Santos.
A Ccir surgiu em 2008, depois que religiosos de matriz africana foram expulsos de uma comunidade na Ilha do Governador por traficantes que, em presídios, se converteram a segmentos neopentecostais.
“Uma coisa que tem crescido no Brasil é a ideia fascista de que só tem um caminho. Isso vem interferindo na educação e no mercado de trabalho, por exemplo, porque excluiu pessoas de oportunidades com base na opção religiosa”, disse Santos. Para pôr fim ao problema, ele cobrou do governo federal um Plano Nacional de Combate á Intolerância Religiosa.
Participando pela primeira vez com uma delegação oficial, os budistas do Rio defenderam “a convivência com praticantes de outras religiões como forma de combater o preconceito”. Vindo de Itaguaí, única cidade do estado com um templo budista instalado há 53 anos, o sacerdote descendente de japoneses Jyunsho Yoshikawa sugeriu que as pessoas “não se fechem em um aquário e conheçam várias fés”.
A comunidade Bahá’i no Brasil protestou, mais uma vez, contra violações de direitos humanos no Irã. Com uma faixa de 6 metros, em persa, deram apoio aos Bahá’i daquele país, em que “são segregados cada vez mais das atividades como ir a uma universidade”, citou a porta-voz Marilúcia Pinheiro. Lá, onde são minoria, os praticantes da religião são presos injustamente, têm negócios boicotados e cemitérios invadidos, disse.
Entre o público, os praticantes de diversas crenças e religiões se misturavam. Evangélicos neopentecostais, que, convidados, não participaram da organização do evento, estavam representados entre os participantes. É caso de Raimundo Sales, de 40 anos. "Já fui espírita, de umbanda, hoje sou evangélico. Acho que a gente não deve ter nada contra religião nenhuma", disse.
Crianças e adolescentes também foram incentivados a comparecer. Do Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Miguel Cervantes, de Manilha, no Grande Rio, uma turma de jovens estava contente em ver, muitos pela primeira vez, hare krishnas , candomblecistas e praticantes de Wicca, estes com seus chapéus pontudos.
“Eu nunca vi gente dessas religiões. A gente só ouve falar, mas não sabe bem como são. Esta é uma oportunidade para conhecê-las, saber no que acreditam e como praticam sua fé”, disse a estudante católica, de 14 anos, Isabel Pereira, acompanhada da professora de religião.
Ao protesto se somou gente de outros estados. Depois de viajar 15 horas de ônibus, de Uberlândia (MG), um grupo praticante do candomblé revelou que recentemente foi hostilizado por candidatos naquela cidade. “Ainda não temos liberdade de religião”, diz a mãe de santo Maria da Silva Ferreira.
A caminhada também propôs aos candidatos à prefeitura do Rio uma carta-compromisso para erradicar o problema do preconceito e da perseguição religiosa, com a criação de uma ouvidoria para apurar denúncias de ataques contra lideranças e templos, além de ações que promovam uma cultura de paz.
Apenas o candidato Marcelo Freixo (PSOL), assinou. Eduardo Paes (PMDB) e Otávio Leite (PSDB) mandaram representantes, que não puderam assinar. A candidata Aspásia Camargo (PV), que em campanha em Copacabana, cruzou com as lideranças religiosas, não se pronunciou.
Edição: Fábio Massalli