Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Integrantes do movimento O Bonde Que Queremos, do bairro de Santa Teresa, entregaram ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), um referendo com 14.500 assinaturas. O documento detalha as características históricas do bonde que a comunidade quer que sejam mantidas.
A engenheira Elzbieta Mitkiewicz, presidente da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast), disse que a comunidade recorreu ao Iphan para impedir a descaracterização dos atuais bondes por modelos mais modernos.
“O bonde que é a identidade do bairro, que é a alma do bairro, é esse que nos serviu durante 115 anos. Quatorze mil e quinhentas pessoas assinaram o manifesto O Bonde Que Queremos, que é exatamente esse, que faz parte do bairro, não tem como negar isso. Nós viemos aqui, ao Iphan, para justamente discutir isso, que é o modelo do bonde, os moradores querem ele como sempre foi: aberto, popular, ecológico. Não queremos outro bonde, queremos esse”, ressaltou.
De acordo com a engenheira, foi montada uma câmara técnica para avaliar a segurança do bonde centenário. Um dos participantes dessa câmara, Alcebíades Fonseca, do Clube de Engenharia, declarou que a reunião com a superintendente do Iphan no Rio de Janeiro, Cristina Lodi, foi produtiva. Fonseca explicou que a questão da segurança, uma das preocupações em relação aos bondes antigos, pode ser resolvida.
“A questão não se prende só à estética do bonde, mas na questão da construção dele. Santa Teresa é um local adverso, com aclividade, com curvas, então a manutenção do sistema, embora antigo, é que garante o bom funcionamento. Para a engenharia tudo é possível, você mantém o bonde antigo e dota ele de um sistema que deixa mais seguro que avião”.
O engenheiro Luiz Cosenza, coordenador da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes (Capa) do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), alerta para a falta de projeto técnico na licitação do novo sistema de bondes de Santa Teresa.
“Nós entendemos que há solução para manter o bonde tradicional com segurança e é isso que nós defendemos. A gente não quer que se faça agora uma licitação, como foi feita, sem que tenha um projeto. A gente quer que, antes de se construir o bonde, se faça o projeto, para que amanhã a gente não esteja lá no Crea analisando novos acidentes”.
Cosenza lembrou que a entidade foi chamada, no ano passado, para analisar as causas do acidente que deixou seis mortos e mais de 50 feridos. De acordo com ele, ficou comprovado que o motivo foi falta de manutenção no sistema, e não o modelo do bonde.
Em abril deste ano, o Iphan concedeu o tombamento provisório do Sistema de Bondes de Santa Teresa, por sua importância histórica e paisagística. Mas, de acordo com o instituto, a medida atinge o trajeto, do Largo da Carioca até o Silvestre, além do bondinho nº 2, modelo que foi tirado de circulação e ficará em exposição. Em nota, o Iphan diz que o tombamento não especifica o modelo de trilho ou de bondes, para possibilitar atualizações dos equipamentos.
Edição: Aécio Amado