Pesquisadores tentam datar obras de origem peruana que pertencem ao governo de São Paulo

26/08/2012 - 17h21

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Desde o último dia 21, estão expostas no Palácio dos Bandeirantes 66 pinturas de origem peruana, da Escola Cusquenha de Arte, que fazem parte do acervo do governo estadual. A exposição Cusquenhos nas Coleções de Arte dos Palácios – Reflexões traz obras que estão sendo investigadas com o objetivo da reclassificação e da valorização da obra cusquenha. Por meio de técnicas especiais, os pesquisadores estão descobrindo quais as reais datas da produção das obras e de onde vieram.

O estudo está sendo feito com o apoio do Instituto de Física da Universidade de São paulo (USP) e da historiadora Aracy Amaral. Os pesquisadores utilizam métodos como reflectologia de infravermelho, fluorescência de ultravioleta, radiografia e a classificação não destrutiva de análise de superfícies. Até agora, foram descobertas telas produzidas em três períodos diferentes, com três tipos de desenho.

“A investigação científica vem para confirmar que nem todas são cusquenhas coloniais, apesar de terem sido produzidas na região andina e terem sido trazidas ao Brasil com essa classificação. O objetivo do estudo é reclassificar e catalogar as obras para ter uma datação aproximada da produção”, disse a curadora do Acervo Artístico Cultural do Palácio do Governo do Estado de São Paulo, Ana Cristina Barreto de Carvalho.

A coleção pertence ao governo estadual e foi adquirida nos anos 1960 e início de 1970 também no contexto decorativo, para ambientar os palácios do governo. Esta é a primeira vez em que as obras estão todas juntas, já que parte delas fica no Palácio Boa Vista, em Campos do Jordão, também do governo estadual. “Na época em que foram adquiridas, as obras representaram a resposta à demanda de mercado de um certo modismo, já que, em todas as casas consideradas de elite, havia pelo menos uma obra cusquenha”.

Uma das obras que já teve suas peculiaridades reveladas pelo estudo é a pintura de um anjo, que teve a tela recortada de um grande painel, provavelmente no século 18. No recorte, nota-se um desenho muito desproporcional à cena que se vê, o que é uma evidência de uma camada que antecede duas cenas posteriores. “Não sabemos onde está essa tela recortada. Muitas dessas obras foram recortadas de telas grandes para atender a uma demanda de mercado. As menores eram mais fáceis de serem comercializadas e transportadas”, relata Ana Cristina Carvalho.

Para não perder a tela e aproveitar a cena do recorte, eram utilizados os mesmos materiais para refazer a mesma pintura. “Por muitas perdas de policromia, de pigmentação dessas telas originais, para que não se perdesse aquilo eles utilizavam, a própria tela”, explica a curadora. Na tela do anjo, foram identificadas imagens de São José e do Menino Jesus feitas em diferentes períodos.

A maioria das telas traz imagens religiosas, característica que demonstra o período colonial no qual havia uma busca e identidade na região. A principal função das obras eclesiásticas da época era didática e catequética, usadas pelos espanhóis para doutrinar o povo local. “A arte mostrada nessas telas é mestiça e incorpora influências europeias do colonizador espanhol, italiano e flamenco, interpretando, ao seu modo, seus costumes e símbolos próprios, mostrando também a fauna e flora local”.

A investigação está sendo feita há seis meses e começou com uma viagem à Lima, no Peru, para visitar especialistas em arte do país e colecionadores que têm telas semelhantes. As obras ficam expostas até dia 4 de novembro e as visitas são agendadas e acompanhadas por monitores.
 

Edição: Lana Cristina