Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas ouviu hoje (21) o operário Raimundo Braga de Souza, que trabalhou na Usina Hidrelétrica Jirau, em Rondônia. Ele denunciou ter sido preso por 54 dias e espancado “diversas vezes” por policiais militares do estado e da Força Nacional para admitir participação no incêndio em 37 alojamentos da obra ocorrido em abril e também delatar responsáveis.
Sem provas de sua participação no crime, Raimundo foi absolvido pela Justiça. “Eles [os policiais] queriam que eu confessasse algo que não fiz e que apontasse quem teria feito aquilo”, disse referindo-se ao incêndio. Durante a audiência na Câmara, diversos deputados manifestaram apoio ao operário, que até hoje não conseguiu reaver seus documentos, provavelmente queimados no incêndio.
A CPI, instalada na Câmara dos Deputados, também deverá solicitar que a Polícia Federal abra um inquérito para investigar o desaparecimento de 13 operários da obra, do mesmo modo considerados à época suspeitos de envolvimento com o incêndio. Raimundo diz que o motivo do desaparecimento deles foi “o medo de serem repreendidos”.
Segundo o secretário de Segurança, Defesa e Cidadania de Rondônia, Marcelo Nascimento Bessa, Raimundo foi preso por ter sido encontrado no local com um isqueiro e por ter sido apontado por testemunhas de estar entre as pessoas que incendiaram o canteiro de obras. “Ele estava com um isqueiro porque, como todos sabem, é fumante há muitos anos”, retrucou o advogado do operário, Ermógenes Jacinto de Souza.
O fato de ter sido acusado de participação no ato de vandalismo fez com que a empresa pedisse a Raimundo que assinasse uma carta de demissão por justa causa, o que foi recusado. “Não fiz nada de errado e agora quero o meu direito de receber o que eles me devem e de ser indenizado pelos 54 dias em que fiquei preso por uma falsa acusação”, argumentou Raimundo.
“Esse cidadão pode até ser ator e estar mentindo. Se for, me convenceu. Para mim, ele é, sim, um cidadão honrado. O Estado, inclusive, já reconheceu sua inocência e [além disso, por causa do ocorrido,] está até hoje sem seus documentos”, avaliou o presidente da CPI, deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA).
Na avaliação dos deputados que se manifestaram durante a audiência, as suspeitas de que o operário teria sido vitima de tráfico humano para servir de mão de obra na construção da usina – um dos motivos pelos quais Raimundo foi convocado – no entanto, não procede.
“Como o próprio Raimundo disse, ele pagou R$ 500 a algum esperto – um sujeito que, ao que parece, se chama Antônio Milagro – apenas para ser levado, junto a outras pessoas, até a obra. Acredito que está claro que ele não foi capturado pela empreiteira”, disse o presidente da CPI. A comissão, segundo ele, vai ouvir Antônio Milagro.
O diretor de Energia da construtora Camargo Corrêa, Luiz Carlos Martins, disse que o esgotamento da mão de obra em Rondônia levou a empreiteira a buscar mão de obra em outros estados. “Mas sempre por meio do Sine [Sistema Nacional de Emprego]”, garantiu.
“Isso foi noticiado em jornais de diversos estados. Nós inclusive pagamos a viagem a Porto Velho e a hospedagem. O problema é que, em obras dessa dimensão, sempre aparecem golpistas”, acrescentou. A Camargo Corrêa é a empreiteira contratada para a construção da Usina Jirau.
Raimundo disse ter saído satisfeito com o depoimento. “Eu falava e não era ouvido. Acho que esse é o lugar certo para dizer o que aconteceu, porque todos poderão ouvir. Espero que me ajude também a conseguir meus direitos, porque minha demissão não poderia ser por justa causa e porque fiquei 54 dias preso sem nenhum tipo de prova”, disse o operário.
Edição: Davi Oliveira
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