Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A meta estabelecida pelo governo federal de tirar 16 milhões de brasileiros da miséria passa pelo atendimento da chamada população em situação de rua – cerca de 300 mil pessoas, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
Uma das barreiras para que essa população tenha acesso a políticas públicas e a benefícios como o Bolsa Família é a falta de referências domiciliares. Em geral, como acontecia com o Cadastro Único (CadÚnico), o registro de beneficiários exige a anotação de endereço residencial.
Para contornar isso, o governo federal criou novas formas de atendimento, como os consultórios médicos de rua, mudou o CadÚnico, que agora aceita a indicação de endereço de abrigo, igreja ou restaurante popular, e está criando mais centros de referência especializados para a população em situação de rua, os chamados centros POP.
Atualmente, 253 centros POP estão em funcionamento no país – 163 deles criados após o lançamento do Programa Brasil sem Miséria, no ano passado. Hoje (6), a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, participou da inauguração do primeiro centro POP no Distrito Federal (DF).
“Era uma reivindicação da população em situação de rua”, disse a ministra, ao explicar que o atendimento é diferente do que é prestado nos centros de Referência de Assistência Social (Cras) e nos centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas).
Para o governador do DF, Agnelo Queiroz, a criação do centro é estratégica para a aproximação com a população de rua. “Aqui é o acolhimento. É a partir daqui que a gente estabelece o contato”, disse Agnelo à Agência Brasil.
O primeiro POP da capital federal fica na Asa Sul e vai atender a moradores de rua que estão no Plano Piloto, Lago Sul e Lago Norte, Sudoeste e Cruzeiro, áreas nobres da cidade que concentram mais de 31% da população de rua, segundo pesquisa da Universidade de Brasília (UnB). A unidade funcionará apenas durante o dia, em horário comercial, mas, à noite, um ônibus estará à disposição das pessoas para levá-las a abrigos.
Até o fim do ano, o governo do Distrito Federal promete entregar mais dois centros: um na Região Administrativa de Taguatinga e outro na de Ceilândia.
O centro inaugurado hoje em Brasília fica na 903 Sul, a uma quadra do local onde, há 15 anos, foi queimado o índio Galdino. O crime comoveu a cidade e repercutiu em todo o mundo, mas moradores de rua continuam sendo assassinados em Brasília e nas regiões administrativas do DF.
O antropólogo Felipe Areda, da Diretoria de Serviços Especializados à Família e Indivíduos do Governo do Distrito Federal, enumera e nomeia sete moradores de rua assassinados violentamente este ano por “razões múltiplas”: Paulo César e José Edson, queimados em Santa Maria; José Neves Lima, que teve a cabeça esmagada na Hípica, área próxima ao Plano Piloto; Ulisses Cruz Onório, espancado até a morte e jogado em um contêiner de lixo; Adriano Oliveira e Valdo Serra, executados a tiros na região do Areal); e Fábio Costa, assassinado na Asa Sul; além de um desconhecido cujo corpo foi encontrado em um carrinho de mão à margem da BR-060.
Edição: Nádia Franco