Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse hoje (4) que a crise econômica mundial será uma oportunidade para que o governo faça mudanças necessárias na economia. “Vamos aproveitar para fazer ajustes importantes que, se não fosse a crise, nunca seriam feitos”, declarou durante seminário com lideranças empresariais na capital paulista. Ele aposta que medidas tomadas agora irão repercutir a longo prazo. “Apresentamos uma série de medidas estruturais que terão efeito, não só em função da crise, mas para tornar a economia brasileira mais competitiva no futuro”, avaliou.
Mantega destacou mudanças nas políticas fiscal, monetária e cambial, como redução dos juros, dos spreads bancários (diferença entre as taxas pagas ao aplicador e as que os bancos cobram do tomador) e a alta do dólar. Ele ponderou, no entanto, que o impacto de algumas medidas ainda serão observados, como a desoneração da folha de pagamento, que passará a valer a partir de agosto.
“Isso é um processo que está ocorrendo e que ainda não teve tempo de mostrar os seus efeitos e as suas potencialidades”, ressaltou. Durante o evento, Mantega disse que essa medida de desoneração será ampliada para outros setores econômicos, além dos 15 setores industriais contemplados inicialmente.
O ministro aposta em um crescimento de 3% a 4% no segundo semestre de 2012. “Este ano é como se fosse 2009. No meio do ano as coisas começaram a melhorar fortemente”, comparou. Mantega, no entanto, avalia que esse otimismo só irá se concretizar com a colaboração do mercado e do setor financeiro. “Contamos com a ousadia dos empresários, fazendo investimentos, e do setor financeiro, que tem que liberar mais crédito e reduzir o spread. O governo fará a parte dele”.
Durante o seminário, promovido pela Federação das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) e pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), Mantega recebeu um documento com propostas dos empresários para a aceleração do crescimento no país. Dentre as sugestões, as entidades indicaram a ampliação do prazo para recolhimento dos impostos. “Hoje pagamos o imposto e somente depois recebemos o pagamento dos clientes. Isso daria um fôlego aos empresários e poderia recuperar a economia a curto prazo”, justificou Paulo Skaff, presidente da Fiesp.
Os empresários propuseram ainda medidas a médio prazo, como redução da tarifa de energia elétrica, dos juros e dos spreads bancários e, a longo prazo, foram propostas ações como investimentos em educação e infraestrutura. Para Mantega, no entanto, os empresários não devem esperar essas medidas para iniciar investimentos. “Quem parte na frente, sai com vantagem”, incentivou.
O ministro avalia que as condições são favoráveis para a superação da crise no Brasil, o que permite um comportamento menos retraído do empresariado. “Estamos em melhores condições do que em 2008. Nós temos mais reservas do que tínhamos naquela época. As empresas estão melhores. Não houve interrupção do crédito como tínhamos naquela época”, disse.
Mantega mostrou-se preocupado, no entanto, com a possibilidade de aprovação de medidas no Legislativo que, para ele, resultariam em uma instabilidade fiscal. Ele citou as propostas de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação e o fim do fator previdenciário. “Temos uma excelente relação com o Congresso, mas têm esses conflitos”. Segundo o ministro, a aprovação dessas propostas colocaria em risco as contas públicas e poderia “quebrar o Estado brasileiro”.
Edição: Fábio Massalli