Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Uma experiência de pesquisa científica e inovação produtiva da Universidade Federal de Rio Grande (Furg), no Rio Grande do Sul, que viabiliza a pesca não predatória de anchoíta e sua produção industrial em enlatados para consumo humano, está em exposição no Pier Mauá, no Rio de Janeiro, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. O peixe tem propriedades nutritivas semelhantes às da sardinha, sendo recomendado por causa do baixo teor de sódio e de gordura, além de altos níveis de ômega 3 e ômega 6.
O projeto da Furg, iniciado em 2005, envolve desde a pesquisa oceanográfica sobre a migração dos cardumes até a produção do pescado para o fornecimento de merenda escolar a 34 mil crianças de 98 escolas públicas de Porto Alegre e de Rio Grande, no interior do estado.
Segundo o coordenador da iniciativa, Lauro Madureira, o projeto foi recebido com entusiasmo no último Congresso Mundial de Pesca, realizado no mês passado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) em Edimburgo, na Escócia. “Esse trabalho é a grande oportunidade para os gestores da pesca mostrarem que é possível aproveitar um recurso de forma sustentável. Esse é praticamente um dos únicos estoques do mundo que ninguém pesca”.
No Brasil, o pescado é usado tradicionalmente para produzir farinha, exportada para países como o Peru e o Chile, que a utiliza como isca. Segundo Madureira, a produção da farinha desperdiça recursos. “Quatro quilos (kg) de anchoíta são gastos para fazer 1 kg de farinha que, em média, permite a pesca de 0,5 kg de outro peixe – o que dá para alimentar duas pessoas” -, estima o coordenador.
A produção para alimento humano rende oito vezes mais: “Quatro kg de anchoíta são gastos para fazer 4 kg de latas de pescado com molho”. Se servido com massa, “atende até a dez alunos por lata”, calcula Madureira, citando uma das receitas recomendas para as escolas. De acordo com ele, 70% dos alunos que provaram o peixe responderam que “gostaram muito” ou “gostaram”, em pesquisa de opinião realizada em 2011. “Para peixe, esse resultado é muito bom”, avalia.
A época de pesca da Anchoíta no Brasil é entre junho e setembro, quando as águas do litoral do Rio Grande do Sul ficam em torno dos 10 graus Celsius. A capacidade de produção pode chegar a 100 mil toneladas por ano. Além do Brasil, a Argentina, o Uruguai, a África do Sul e a Austrália podem produzir o pescado.
O projeto da Furg empregou cerca de 50 pessoas na pesquisa, no barco de pesca e na linha de produção (profissionais como oceanógrafo, físico, engenheiro de alimentos, engenheiro de computação, tripulação do barco e operários). A iniciativa teve o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para pagamento de custeio, equipamentos e bolsas de pesquisa em atividade de campo; da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), para formação de pessoal e intercâmbio de pesquisadores; e do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), para arrendamento de barco de pesca e contratação de fábrica para enlatar o pescado.
Auditoria da Controladoria-Geral da União no ministério, no entanto, não aprovou a prestação de contas do projeto. De acordo com Madureira, o convênio (de R$ 2,2 milhões, assinado em janeiro de 2010) é questionado por “improbidade administrativa”. Ele garante, no entanto, que “não existe nenhum centavo gasto de forma irregular”, que o problema “é meramente burocrático” e que não há compreensão dos auditores para o fato de que “um projeto de pesquisa tem ter flexibilidade”, pois, com os resultados obtidos, o andamento “não ocorre necessariamente como previsto”.
A Agência Brasil tentou obter informações sobre a auditoria do projeto, mas não obteve retorno do MPA.
Edição: Graça Adjuto