Renata Giraldi*
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Com apenas algumas horas no cargo, o novo presidente da França, François Hollande, reúne-se hoje (15) com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, para discutir propostas a fim de incentivar o crescimento econômico na Europa e rever as medidas de austeridade em debate. O assunto motiva controvérsias entre ambos. Hollande é crítico em relação às medidas de austeridade fiscal fixadas pelos líderes europeus e quer renegociar o pacto de disciplina firmado por 25 países para incluir medidas de estímulo ao crescimento. Será o primeiro encontro entre Hollande e Angela Merkel.
A chanceler, que apoiou a candidatura do ex-presidente Nicolas Sarkozy, recusou-se a conversar com Hollande durante a campanha presidencial francesa. "Para sair da crise, a Europa precisa de projetos de solidariedade e crescimento", disse Hollande, no seu discurso na cerimônia de posse. Ao ser perguntado sobre o encontro com Angela Merkel, Hollande foi diplomático.
"Será uma maneira de nos conhecermos. E também para dizermos com franqueza o que pensamos sobre o futuro da Europa", disse o novo presidente. "A França e a Alemanha precisam trabalhar juntas, mas não pensamos da mesma forma sobre determinados assuntos. E falaremos a respeito para encontrarmos compromissos."
A expectativa é que Hollande e Angela Merkel busquem um consenso para levar à reunião extraordinária de líderes da União Europeia (UE), dia 23, que será levado à cúpula do bloco, nos dias 28 e 29 de junho.
A proposta de Hollande de renegociar o pacto de disciplina ganhou apoio de países como a Itália, Bélgica e Grã-Bretanha, além da Comissão Europeia. A Alemanha também defende a necessidade de crescimento econômico, mas tem uma visão bem diferente sobre as medidas que devem ser adotadas
Hollande propõe o desbloqueio de recursos não utilizados pelo Banco Europeu de Investimentos (BEI) e pelos chamados fundos estruturais do continente e também a criação de eurobonds para financiar projetos de infraestrutura. Ele defende ainda ampliação do papel do Banco Central Europeu (BCE) – que passa a emprestar diretamente recursos para países, o que a Alemanha recusa.
A forte derrota do partido da chanceler, o CDU, nas eleições na Renânia do Norte-Vestfália, o estado mais populoso da Alemanha, pode reforçar, indiretamente, a posição do presidente francês, segundo analistas políticos. A austeridade fiscal defendida por Angela Merkel foi o tema central da campanha dessa eleição regional.
Porém, a chanceler permanece popular, como indica uma pesquisa publicada na revista alemã Stern. Segundo a publicação, 59% dos alemães apoiam a política de austeridade de Angela Merkel. Analistas perguntam até que ponto a França poderá desafiar a Alemanha e o Banco Central Europeu, sob o risco de criar temores sobre a qualidade da dívida francesa em um momento em que a situação na zona do euro voltou a ficar instável em razão da crise política na Grécia.
*Com informações da BBC Brasil // Edição: Juliana Andrade