Daniella Jinkings
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Como um retrato autêntico da vida nas periferias brasileiras, a literatura marginal vem ganhando espaço e conquistando leitores, principalmente os jovens.
“A literatura que eu escrevo vem de ruas que os anjos não frequentam, de pessoas que não têm voz”, diz o poeta Sérgio Vaz, referindo-se à expressão literária e estética da periferia. O tema foi destaque de um ciclo de debates realizado hoje (15), na 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em Brasília, que reuniu escritores como Vaz, Ferréz e o rapper GOG.
Autor de coletâneas de poemas que tratam do cotidiano da periferia de São Paulo, Vaz conta que se engajou nesse tipo de literatura por ser revoltado com a vida. Para ele, os livros sobre a realidade das “quebradas” mostram como as pessoas da periferia estão se tornando protagonistas de sua própria história. “Antigamente, as pessoas escreviam sobre a gente, eramos coadjuvantes. Hoje, somos nós que contamos a nossa história. A literatura é uma arte como outra qualquer e tem compromisso social.”
Há mais de dez anos, Vaz criou o Cooperifa, um projeto social que busca disseminar a leitura entre as pessoas de comunidades de São Paulo. Durante o ano, são realizados saraus, oficinas e outras atividades culturais. Atualmente, 150 pessoas estão engajadas no projeto. “Começamos a dar uma função social para a literatura por meio da oralidade. Nós fazemos a gentileza de recitar, e a pessoa faz a gentileza de ouvir. É uma ferramenta para chegar ao livro.”
A professora Aline Evangelista Martins acompanhou a evolução do sarau da Cooperifa, em São Paulo e o modo como os livros que tratam da realidade do gueto vem impactando as comunidades. “O grande mérito no trabalho deles [de escritores de literatura marginal] é a democratização da leitura, da imagem do leitor, da quebra de estereótipo. [Eles] conseguem ampliar bastante as possibilidades e formar leitores onde muitas vezes a gente não consegue.”
A literatura marginal, que tem forte ligação com a cultura do rap e do hip hop, está atraindo cada vez mais os jovens. O estudante brasiliense Fernando Borges, de 16 anos, viu na literatura uma forma de melhorar o comportamento e mudar de vida. “Eu bagunçava muito na escola, por isso, a professora me passou alguns contos do Ferréz [escritor de literatura marginal], e eu me inspirei. Tomei gosto pela leitura, porque, antigamente, eu não gostava de ler.”
Morador da Cidade Estrutural, no Distrito Federal, Fernando tornou-se escritor e deve lançar um livro com textos, poesias e letras de música ainda neste ano. “Vai ser voltado para a literatura marginal, para o cotidiano da periferia. Quero que as pessoas leiam mais a literatura periférica”, disse.
Para o rapper e escritor Genival Oliveira Gonçalves, conhecido como GOG, a literatura periférica põe o jovem em papel de destaque.
“Mostra que ele [o jovem], muitas vezes dá motivo para que o sistema o enquadre, mas também que ele tem possibilidade de escrever a história. A sabedoria de rua é o nosso grito de guerra, a nossa visão.”
Edição: Nádia Franco