Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O professor José Márcio Camargo, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), analisou que as medidas de estímulo à indústria anunciadas hoje (3) pelo governo podem dar um pequeno alívio para o setor industrial, “mas não resolvem o problema”. Ele acrescentou que “é algo do tipo vamos fazer mais do mesmo”.
As medidas, segundo disse Camargo à Agência Brasil, não trazem muita novidade além do que a mídia vinha noticiando nos últimos dias, entre as quais estão a desoneração da folha de pagamentos de alguns setores, a diminuição de taxa de juros do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e incentivos a investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação. O professor recordou que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que pretende atuar também sobre o câmbio, “mas não disse o que vai fazer de verdade”.
Na avaliação do economista, o ponto positivo da desoneração da folha é que ela vai contribuir para reduzir a informalidade. “Uma das principais razões para a informalidade no Brasil é a negociação dos impostos que se dá entre os empresários e os trabalhadores. Como o empresário não paga imposto, os dois saem ganhando. Só perde o governo. Esse é o lado bom da desoneração da folha”, disse.
Camargo advertiu que a medida vai aumentar a demanda por mão de obra em um momento em que a taxa de desemprego no país já está muito baixa (5,7% no mês de fevereiro, segundo IBGE). Com isso, pode ocorrer um aumento de salários e não de emprego. “O aumento de salários vai gerar mais pressão inflacionária e pode ser um tiro no pé para a indústria”.
Segundo destacou, o setor industrial vai deixar de pagar imposto sobre a folha de pagamento, mas vai pagar imposto sobre o faturamento e o custo do salário vai aumentar. “E a indústria pode ficar até menos competitiva do que estava antes”.
Camargo acrescentou que o imposto sobre o faturamento é ineficiente, porque incide em cascata no processo produtivo. Quanto maior for a cadeia produtiva, maior é a incidência de impostos na ponta. Como, em geral, as cadeias produtivas mais longas são as mais modernas e sofisticadas, na verdade o que ocorre é que setores integrantes dessas cadeias longas acabam sendo penalizados, enquanto setores com cadeias produtivas pequenas são beneficiados, “o que é extremamente ineficiente”.
O professor salientou que o ministro (Mantega) quer desonerar tudo o que vai ser exportado. “Eu não sei como ele vai fazer isso porque, na medida em você compra insumos da sua cadeia produtiva, o imposto vai vir no faturamento”.
Em relação à redução dos juros do BNDES, Camargo argumentou que as taxas praticadas pelo banco já são negativas em termos reais. Disse que as empresas não estão investindo porque sabem que não conseguem ter competitividade devido aos problemas estruturais do país.
Edição: Fábio Massalli
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