Diretora de instituto comenta pesquisa que mostra necessidade do Estado dar apoio no cuidado de crianças

01/03/2012 - 18h36

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – A diretora do Instituto Patrícia Galvão, Jacira Melo, disse hoje (10) que é um avanço a sociedade perceber que o Estado é corresponsável pelo cuidado com as crianças, principalmente no período em que os pais estão no trabalho. Pesquisa feita pela entidade indicou que 47% da população brasileira atribuíram à família o cuidado com as crianças e 42% responderam que essa responsabilidade é do Estado

A pesquisa avaliou como a população brasileira percebe a importância das creches e a qualidade desses serviços. “É importantíssimo a sociedade perceber que o Estado é responsável pelo cuidado com as crianças. Isto é, pai e mãe saem para trabalhar com tranquilidade porque sabem que os filhos estão sendo bem cuidados, em segurança, bem tratados e alimentados. Essa é uma sociedade que vai para frente com desenvolvimento e saúde”, disse a diretora.

Jacira Melo ressaltou que a maioria das pessoas que apontam a necessidade de creches e pré-escolas é do extrato social de baixa renda porque a população dessa faixa é a que mais precisa e usa esses serviços. “As mulheres das classes A e B precisam muito, mas é a parcela que pode pagar e que paga caro. Mas a população das classes C e D não tem como pagar. Elas precisam [as mães de classes mais baixas] e sabem que têm direito a isso e querem que o Estado responda a essa demanda”, observou ao analisar o resultado da pesquisa.

A diretora do Instituto Patrícia Galvão lembrou que o déficit de creches no país chega a 12 mil unidades, que seriam suficientes para atender aos 10 milhões de crianças de até 3 anos que precisam de um lugar para ficar enquanto os pais trabalham. “Tivemos como promessa de campanha da presidenta Dilma Rousseff a construção de 6,4 mil creches, o que significa 50% do déficit do país”.

Para Jacira Melo, as creches são um tema importante para o desenvolvimento do país e precisam ser coordenadas pelas prefeituras. Ela disse ainda que é preciso que as unidades funcionem o ano inteiro e não fechem durante as férias, já que as mães não podem deixar de trabalhar nesse período em que as creches estão fechadas.

Presidente da organização não governamental (ONG) União de Mulheres de São Paulo, Arlene Martinez Ricoldi destacou que justamente quando a criança mais precisa de cuidado é que a mãe recebe menos apoio para cuidar dos filhos. “Muito provavelmente se essa mãe não conseguir a vaga na creche, não vai trabalhar. Ou vai aceitar um emprego de jornada menor, em que ganha menos e, se esse emprego pagar muito pouco, ela vai achar que não vale a pena”.

Arlene Ricoldi lembrou que, em muitas situações, a mãe se vê obrigada a pagar uma escolinha, uma babá ou uma crecheira de bairro, o que nem sempre vale a pena diante do salário dessa mãe, que pode não ser suficiente para pagar pelo serviço. “Dessa forma, acaba-se reduzindo muito a possibilidade de um maior ganho econômico dessas mulheres. E isso se torna mais grave quando elas são as únicas responsáveis pela renda da casa”.

A presidente da ONG destacou que é importante ter o serviço de cuidado com as crianças à disposição mesmo que a mulher não seja a principal responsável pela renda familiar, porque, afinal, ter um trabalho dá a essa mulher mais autonomia e poder de decisão sobre suas próprias vidas.


Edição: Lana Cristina