Monica Yanakiew
Correspondente da EBC na Argentina
Buenos Aires – Centenas de argentinos passaram a madrugada desta quinta-feira (23) percorrendo hospitais e o necrotério de Buenos Aires. Desesperados, buscavam parentes e amigos entre as vítimas de um dos piores acidentes de trem no país desde 1970. O governo decretou dois dias de luto.
O acidente ocorreu às 8h34 de quarta-feira (22). Um trem, com 2 mil passageiros, chegava à estação do bairro Once – um dos mais populares e comerciais de Buenos Aires. Era horário de pico, quando todos vão trabalhar. O trem foi reduzindo a velocidade, até alcançar 26 quilômetros por hora. Mas, para surpresa de todos, não parou. Bateu na barreira da plataforma, matando dezenas de pessoas e ferindo centenas.
Alfredo Bras estava na plataforma na hora do acidente. Em entrevista à Agência Brasil, ele contou que viu o trem chegar e percebeu que ele não conseguia reduzir a velocidade. “Gritei: o trem não está freando! Saiam daí, saiam daí! Todos pensavam que eu tinha enlouquecido”.
Alfredo pulou para trás e sentiu o impacto da batida. Viu duas mulheres batendo nas janelas do trem, desesperadas. Chutou o vidro e conseguiu resgatá-las. “Mas vi que duas pessoas, atrás delas, estavam mortas”, disse.
No fim da noite de quarta-feira, o saldo da tragédia era 50 mortos e 676 feridos, 200 em estado grave. Os vídeos das câmeras de segurança da estação mostram o trem saindo dos trilhos e uma explosão. Os vagões de trás se chocaram com os da frente.
A empresa de trens TBA divulgou comunicado lamentando o acidente e informando que ainda não sabe o que aconteceu. Em entrevista, o secretário de Transporte da Argentina, Juan Pablo Schiavi, disse que ninguém sabe ainda o motivo do acidente. Segundo ele, o trem vinha reduzindo a velocidade no ritmo esperado, até chegar aos 26 quilômetros por hora. De repente nao pôde parar. O maquinista, um jovem de 28 anos, estava descansado e a postos.
Tanto a empresa quanto o governo argentino abriram inquéritos para investigar o acidente, que já é tema de debate político.
Cerca de 400 milhões de pessoas viajam, a cada ano, nos trens de Buenos Aires – um dos maiores sistemas ferroviários da América do Sul. No ano passado, mais de 20 pessoas morreram e 300 ficaram feridas em acidentes de trem.
A privatização do transporte público nos anos 1990 é tema de discussão. O então presidente Carlos Menem achava que as empresas privadas iriam investir em infraestrutura – o que, segundo o deputado Pino Solanas, da oposição, não ocorreu. As empresas recebem subsídios do Estado. Para Solanas, a presidenta Cristina Kirchner não cobrou investimentos em infraestrutura e em segurança das empresas privadas, que hoje administram o sistema ferroviário.
Edição: Graça Adjuto