Mariana Jungmann
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A situação da Síria envolve interesses estratégicos mais amplos, segundo o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Fernando Collor (PTB-AL). Para ele, além dos Estados Unidos, o país sírio desperta a atenção econômica e política da Rússia, China, Turquia e do Irã.
“Os protestos que se iniciaram há 11 meses e que têm sido pesadamente reprimidos pelo governo de Bashar Al Assad caminham para uma situação próxima à guerra civil”, explicou Collor ao analisar o veto da Rússia e da China – membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) – à resolução que defendia "uma transição política, liderada pela Síria, para um sistema político democrático e plural" e que pedia a renúncia do presidente sírio, Bashar Al Assad. O líder oriental é acusado de atacar o próprio povo, promovendo um massacre dos opositores.
De acordo com o senador, tanto a Rússia quanto a China preocupam-se com a inquietação de parcelas de populações muçulmanas dentro de suas fronteiras. “Por outro lado, deve-se lembrar que a Rússia bem como a China concordaram, em março de 2011, em não vetar a resolução que deu guarida à intervenção da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] na Líbia e que levou à derrubada do regime do [ex-presidente Muammar] Kadhafi. A diplomacia russa considera que agiu ingenuamente naquela ocasião”, discursou Collor na última reunião da comissão.
O senador também ressaltou as questões estratégicas que ligam a Rússia à Síria, tais como venda de armas e alianças para o uso por parte dos russos de uma saída ao mar que não congele no inverno. Há ainda, na opinião dele, influências da proximidade das eleições nacionais na Rússia.
“O primeiro-ministro Vladimir Putin é candidato às eleições presidenciais de março e tem aumentado o tom de suas declarações de reafirmação do perfil internacional russo e de crítica aos Estados Unidos. No entanto, a posição favorável a Assad pode durar apenas enquanto, pragmaticamente, a diplomacia russa considerar que o governo sírio tem forças para se manter no poder”, explicou o presidente da comissão parlamentar responsável por analisar decisões de política internacional do governo brasileiro.
O veto dos dois países já havia sido duramente criticado por diplomatas ocidentais, que se disseram "indignados" e "horrorizados" com a rejeição do texto. A proposta de resolução era considerada por analistas o esforço mais importante feito até agora pela ONU para solucionar a crise na Síria.
No que se refere à China, na opinião de Collor, a justificativa para o veto às sanções foi embasada pelas diferentes visões (ocidentais e orientais) acerca do conflito. “Os chineses reagiram às críticas ocidentais por meio de publicação do partido comunista, dizendo que o caos que se segue à derrubada de governos – como exemplo, na Líbia – mostra o erro das posições ocidentais.”
Por fim, o ex-presidente da república fez prospecções de um difícil fim para o conflito. “O impasse em que se encontra a Síria só será resolvido diplomaticamente se for encontrada solução que permita ao regime e aos rebeldes salvar a face, ou seja, que nenhum dos lados apareça como vencedor ou derrotado absoluto, o que nos parece algo muito difícil de ser alcançado.”
O Brasil pleiteia uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e, se já tivesse alcançado a reivindicação, também teria votado a respeito das sanções propostas ao governo sírio. O Itamaraty tem se manifestado a favor de que se considere a opinião e os esforços da Liga Árabe.
Edição: Talita Cavalcante