Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Apontada como uma das possíveis causas do desabamento de três prédios no centro do Rio de Janeiro, na noite de quarta-feira (25), a obra iniciada oito dias antes da tragédia no nono andar do Edifício Liberdade, pela empresa Tecnologia Organizacional (TO), não tinha laudo de um engenheiro.
Segundo explicou hoje (27) um dos sócios da empresa, Sergio Alves, o laudo teria sido solicitado pelo síndico, Paulo Renha, que recebeu da gerente Cristiane Azevedo cópia da planta da obra feita pela companhia no quarto pavimento do mesmo edifício. Cristiane não é engenheira. Renha, então, teria dado a autorização para a obra, aguardando a apresentação do laudo pelo engenheiro Paulo Brasil que, devido à doença da mãe dele, não pôde atender ao pedido naquele momento. O laudo seria apresentado esta semana. “Jamais houve omissão da empresa”, disse Alves. A gerente está internada no Hospital Casa de Portugal, com ferimentos na cabeça.
Constituída há 15 anos com o nome Smart Solutions e, há cerca de 12 anos, ocupando instalações no Liberdade, a TO passou a usar essa denominação no ano passado em função de um “reposicionamento de mercado”, segundo informou Sergio Alves.
A empresa ocupava seis andares no edifício, sendo dois próprios (terceiro e sexto) e os demais, alugados. A arquiteta Regina Valmoré foi, segundo Alves, a responsável pelas obras de reforma em quatro desses pavimentos. Somente no terceiro e no nono andares, os laudos teriam sido assinados pelo engenheiro Paulo Brasil. A reforma do nono andar era tocada pelo empreiteiro Gilberto Figueiredo.
O advogado da empresa, Jorge Williams, assegurou que todas as reformas efetuadas visavam apenas à adequação do ambiente aos profissionais do setor de tecnologia da informação e não afetaram a estrutura do prédio ou a fachada. Informou que as vigas eram externas, situadas nos quatro cantos dos andares. Por essa razão, Williams garantiu que não havia necessidade de autorização da obra pela prefeitura. Não havia nenhuma ameaça à sustentabilidade do edifício, frisou.
Do térreo ao sexto pavimento, os banheiros ocupavam o canto esquerdo do espaço. Os vãos eram livres. A partir do sétimo andar até o último, os banheiros eram centrais. A obra do terceiro andar consistiu na derrubada de divisórias e paredes de tijolos, informou Alves. Ele admitiu erro ao abrir uma segunda janela lateral no décimo andar, sem apresentação de projeto, “porque todo mundo fazia isso”. Do sexto andar para baixo, não havia essa possibilidade, devido ao prédio contíguo.
Entre mortos e desaparecidos, a TO contabiliza 11 funcionários. Segundo o advogado, o departamento que cuida dos recursos humanos da empresa está dando apoio emocional e financeiro aos parentes das vítimas. A TO tinha, no total, 60 funcionários trabalhando no prédio. A companhia ainda tem uma filial em São Paulo.
Sergio Alves saiu do edifício no dia 25 cerca de 40 minutos antes da tragédia. Disse ter retornado ao local, acompanhado dos demais sócios, tão logo soube do desabamento e dirigiu-se à 5ª Delegacia de Polícia, que acompanha o caso. Ali, todos se colocaram à disposição para esclarecimentos, acrescentou o advogado. Ele considerou prematuro falar em indenizações antes dos laudos periciais.
Edição: Vinicius Doria