Luana Lourenço
Enviada Especial
Porto Alegre - O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), José Graziano, disse hoje (25) que a agência precisa incluir a sociedade civil na luta contra a fome e a insegurança alimentar, e que o Brasil precisa cooperar com outros países, principalmente os africanos, no combate à fome.
“A FAO tem que abrir as portas para a sociedade. Estamos tentando criar espaços de interlocução com a sociedade para quebrar o monopólio de interlocução com governos, de alguns governos específicos, como acontecia nos últimos anos”, disse Graziano em um evento do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Rio Grande do Sul, que abriu a programação do Fórum Social Temático (FST). Esse foi o primeiro pronunciamento de Graziano no Brasil depois de assumir o comando da agência da ONU.
O diretor-geral destacou a criação do Conselho de Segurança Alimentar da FAO, que inclui representantes da sociedade civil e do setor privado, como exemplo de interlocução com a sociedade no combate à fome. “A luta contra a fome não é uma luta de um governo, é a sociedade que decide, unida, acabar com a fome. A agenda que hoje não inclui a sociedade civil não é digna de nosso tempo.”
Segundo Graziano, o orçamento anual da FAO, de cerca de US$ 1 bilhão, é pequeno diante do desafio de ajudar 1 bilhão de pessoas que passam fome no mundo, mas que o papel da agência é atuar como multiplicadora de iniciativas que reduzam a insegurança alimentar. “A FAO é uma agência de cooperação técnica, tem que ajudar a difundir boas experiências e colocar assistência técnica à disposição”, apontou.
Segundo Graziano, a meta é priorizar o orçamento para ações de segurança alimentar e reduzir gastos com a burocracia interna da entidade. “Uma das nossas primeiras ações foi racionalizar recursos, gastar o mínimo possível com a burocracia, com papeis, cortamos até viagens de primeira classe”, listou.
Ao tratar do Objetivo de Desenvolvimento do Milênio de reduzir a fome à metade até 2015, Graziano disse que a meta é insuficiente, porque ainda deixa vulnerável metade da população atual de famintos, mas que o compromisso pode ser o primeiro passo para erradicar o problema.
“Temos que impulsionar a meta do milênio, 2015 é um deadline muito importante. Mas como explicar para a outra metade que passa fome que a situação não vai mudar? Não é possível conviver com 500 milhões de pessoas passando fome. Nossa meta é erradicar a fome, mas a meta nos impõe um desafio”, avaliou.
Países que já conseguiram cumprir a meta, como o Brasil, tem o dever de ajudar nações com índices drásticos de insegurança alimentar, na avaliação de Graziano. “O Brasil precisa ajudar outros países, principalmente, os africanos.”
Entre as medidas de apoio, o diretor-geral defendeu o fortalecimento e a expansão da atuação internacional da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Precisamos de uma Embrapa internacional, ajudando quem precisa. Uma agência brasileira que seja realmente de cooperação”, sugeriu.
Para uma plateia de ativistas e representantes de movimentos sociais, Graziano disse que o enfrentamento da fome não pode ser encarado como um desafio impossível. “Utopia é achar que existe desenvolvimento sustentável sem segurança alimentar, achar que poderemos seguir em paz com um bilhão de pessoas passando fome.”
Anfitrião do evento, que ocorreu no Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, o governador Tarso Genro disse que a chegada de Graziano à FAO reflete os avanços da sociedade brasileira nos últimos anos no combate à fome. “É um mérito da nação brasileira, corresponde ao que o Brasil fez nos últimos anos”, disse, em referência aos programas sociais do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente o Fome Zero.
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Edição: Lílian Beraldo