Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Uma equipe de dez técnicos do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio (Crea-RJ) faz hoje (4) uma vistoria no município de Nova Friburgo, na região serrana fluminense. O grupo vai verificar o que foi feito, em termos de obras, desde as chuvas de janeiro de 2011 e que intervenções emergenciais podem ser realizadas na cidade.
Os técnicos devem ficar até o final desta semana na região serrana, para vistoriar também os municípios de Teresópolis e Petrópolis. De acordo com o presidente do Crea-RJ, Agostinho Guerreiro, a vistoria é um desdobramento de um levantamento feito pelo conselho em agosto do ano passado.
Segundo ele, na ocasião, foi constatado que “pouco foi feito” para evitar novas catástrofes, como contenção de encostas, reassentamento de pessoas em áreas de risco e controle da vazão de rios. “A gente vai verificar as coisas que precisavam ser feitas e não foram feitas, dimensionar o tamanho do problema e tentar dar uma prioridade ao que ainda há tempo para ser feito, apesar de já estarmos em plena chuva”, disse.
Em janeiro de 2011, fortes chuvas provocaram enchentes e deslizamentos de terra que deixaram quase mil mortos nos municípios da região serrana, principalmente em Nova Friburgo e no município vizinho de Teresópolis. Nos últimos dias, fortes chuvas voltaram a atingir a região.
Segundo notícias veiculadas na imprensa, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse ontem (3) que, em um ano, não é possível concluir a recuperação da região serrana. Agostinho Guerreiro discorda. Segundo ele, há conhecimento, equipamentos e mão de obra suficientes para concluir o trabalho nesse período.
“A engenharia tem capacidade de fazer. Quem não tem capacidade de fazer é a burocracia do nosso país, a corrupção em prefeituras e governos, a falta de prioridade [dada a essas obras]. Enfim, uma série de fatores que impedem. Mas o Brasil tem que quebrar esse paradigma sob pena de continuar sofrendo catástrofes em série. Isso nós não podemos aceitar”, disse.
Em março de 2011, o vice-governador e secretário de Obras, Luiz Fernando Pezão, encaminhou um relatório à Presidência da República informando que eram necessárias obras em 260 encostas. Em dezembro, nove meses depois, Pezão informou, em entrevista à Agência Brasil, que o governo do estado trabalhou em apenas 30 encostas da região.
Já a construção de 6 mil moradias para as vítimas das chuvas de janeiro de 2011 foi anunciada pelos governos federal e estadual no dia 27 daquele mês. Na entrevista à Agência Brasil, Pezão disse que a previsão é que as primeiras casas só fiquem prontas apenas no final deste ano, ou seja, dois anos depois de anunciadas.
Nestes 12 meses, investigações sobre o mau uso de recursos públicos destinados à recuperação da região provocaram o afastamento dos prefeitos de Teresópolis, Jorge Mário Sedlacek, e Nova Friburgo, Dermeval Neto. As duas cidades foram as mais castigadas pelas chuvas. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) também viu irregularidades no uso dos recursos públicos.
Edição: Juliana Andrade