Alex Rodrigues
Enviado Especial
Itabirito - Castigados pelas fortes chuvas dos últimos dias, comerciantes e moradores de Itabirito (MG) aproveitaram hoje (3) a pequena trégua que a chuva deu para contabilizar os prejuízos e tentar reparar os estragos.
Entre a madrugada de ontem (2) e o início da tarde de hoje (3), o Rio Itabirito já transbordou ao menos três vezes, alagando as ruas do centro, onde invadiu lojas, restaurantes e residências. Ao redor da Praça Doutor Guilherme, um dos pontos de maior movimento da pequena cidade de 43 mil habitantes localizada a 55 quilômetros de Belo Horizonte, comerciantes se esforçavam para retirar a água do interior dos estabelecimentos. Enquanto isso, funcionários da prefeitura desobstruíam ruas tomadas pela lama com a ajuda de uma pá mecânica.
Dona de uma loja de roupas e morando na cidade há seis anos, a comerciante Beny Pires demonstrou resignação diante das várias tentativas de limpar a loja, enxugar prateleiras e separar os produtos estragados.
"De ontem para hoje, nós já limpamos esta loja quatro vezes", disse Beny à Agência Brasil. "Foi a primeira vez que vi uma enchente como esta na cidade. Perdemos boa parte da nossa mercadoria. Ainda não calculamos o tamanho do prejuízo porque, na hora, só pudemos juntar tudo. Só depois que terminarmos a limpeza da loja vamos separar as estragadas e ver o que fazer com elas. Enquanto isso, torcemos para que a chuva pare para podermos limpar tudo e tentar reabrir a loja a partir de quinta ou sexta-feira".
Funcionária de uma ótica, Ana Maria Paranhos Corrades, também não via outra alternativa além de aproveitar as poucas horas de sol para tentar limpar a loja e voltar a guardar toda a mercadoria tirada às pressas das prateleiras, o que, segundo ela, evitou prejuízos materiais. "É preferível limpar a loja [a cada vez que ela é alagada], mesmo que a água volte a subir depois. Se deixarmos a lama, ela depois não sai mais", disse Ana Maria, indicando a grade de ferro de uma ponte próxima, retorcida pela força das águas.
Entre as áreas mais afetadas pelo transbordamento do rio e por deslizamentos de terra está o bairro São Geraldo. O tráfego de veículos na Rua Doutor Baeta Costa, uma das principais vias de acesso ao local, foi interrompido por uma camada de lama que, em alguns pontos, atinge quase um metro. Uma pá mecânica chegou a atolar ao tentar remover parte do material acumulado próximo ao rio.
De acordo com Cássia Maria Teixeira, que há 37 anos mora no bairro, há 15 anos os moradores do São Geraldo não viam nada igual. "A culpa é da natureza e não adianta apontar este ou aquele responsável, mas que a prefeitura podia ter feito mais para evitar isso, podia", disse Cássia. Segundo ela, havia grande quantidade de lixo jogado às margens do Rio Itabirito antes do período das chuvas.
Pouco depois de a reportagem da Agência Brasil deixar a cidade, no final da tarde, a chuva voltou a cair forte, reforçando a necessidade de atenção e o medo entre a população. Segundo a Defesa Civil, ainda deve chover forte nos próximos dias.
Ontem, a prefeitura obteve da Secretaria Estadual de Defesa Civil a promessa de que 100 colchões, 200 cestas básicas, 100 kits de higiene pessoal e 200 cobertores, além de vários litros de água mineral, serão doados para atender às pessoas desalojadas e afetadas pela enchente. Os mantimentos serão oferecidos para a população quando retornarem para as suas casas.
Edição: Rivadavia Severo