Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Uma democracia com mais participação popular é a principal reivindicação do grupo que está acampado desde o dia 15 de outubro sob o Viaduto do Chá, no centro de São Paulo. Inspirado nas manifestações que ocuparam Wall Street, o centro do mercado financeiro norte-americano, e a Praça Puerta del Sol, em Madri, os jovens tentam chamar a atenção com uma nova forma de protesto, que modifica simultaneamente a paisagem urbana e a rotina dos manifestantes.
Com cerca de 130 barracas montadas a poucos metros da sede da prefeitura paulistana, a comunidade procura colocar na prática o modelo de democracia que defende. Não são feitas votações ou eleições de nenhum tipo, tudo é decidido em assembleias que só chegam a um resultado quando há consenso total. “Estamos nos apropriando do espaço público para viver isso, ao mesmo tempo que estamos protestando estamos construindo algo”, explica o fotógrafo Caio Castor, de 28 anos.
A própria manutenção da ocupação depende, em alguma medida, da capacidade do movimento de repercurtir na sociedade. Segundo Castor, tudo o que permite a vida debaixo do viaduto veio de doações, “desde a cadeira em que você está sentado até o computador”. Os alimentos e também os itens de higiene pessoal foram doados. O apoio vem de pessoas que concordam com as ideias da manifestação, batizada de Acampa Sampa. “Você conversa com as pessoas e todo mundo vê todo o sentido”, conta o fotógrafo, que tem esperança de que a ocupação consiga crescer a ponto de tomar todo o Vale do Anhangabaú.
A ajuda externa ameniza as dificuldades enfrentadas pelos jovens, grande parte de classe média, que resolveram deixar o conforto de casa para protestar por um mundo mais justo. Mas nem o frio, que chegou perto dos 10 graus Celsius (ºC) na última madrugada, é considerado mais duro do que conciliar pontos de vista tão diferentes presentes no acampamento.
Estão reunidos no local estudantes, jornalistas, músicos, sociólogos e moradores de rua. Eles querem, além de uma democracia mais direta, 10% do Produto Interno Bruto para a educação, o fim do projeto da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e um sistema de saúde de qualidade.
“É difícil lidar com a pluralidade quando a gente quer construir por consenso. Sentar, escutar o outro, que tem uma história muito diferente da sua, e compor com ele é um exercício diário de aprendizado”, destaca a estudante de jornalismo Priscila Cavalieri, ponderando que, mesmo sendo um obstáculo, as diferenças também enriquecem a experiência da ocupação.
Edição: Lana Cristina