Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A vida dos refugiados políticos que trocaram seus países pelo Brasil não é fácil. A principal dificuldade – fora aprender uma nova língua e se adaptar à cultura local – é conseguir se encaixar no mercado formal. Embora eles tenham situação jurídica que permite o trabalho legal, com carteira assinada e direitos trabalhistas, a falta de informação dos empresários tem sido a principal barreira para arranjarem um emprego.
Para encontrar formas de melhorar a situação dos cerca de 5,4 mil estrangeiros que vivem no Brasil na condição de refugiados ou solicitantes de refúgio, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) realiza um encontro de hoje (24) até amanhã (25) no Rio, com a participação de refugiados, de entidades de apoio e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
O representante da Acnur no Brasil, Andrés Ramirez, considerou que é preciso uma campanha de mídia para esclarecer os empresários sobre quem são os refugiados, até para que não sejam confundidos com imigrantes ilegais. “Às vezes os empregadores não aceitam o documento de solicitante de refúgio, que já dá possibilidade para trabalhar. E também tem a questão do preconceito, pois as pessoas nem sabem o que é um refugiado. Pensam que é alguém criminoso, um foragido”, disse Ramirez.
O diretor executivo da organização Cáritas, que lida diretamente com os refugiados no Rio, Cândido Feliciano da Ponte Neto, aponta outro entrave que dificulta a vida dos estrangeiros: a falta de documentação. “Os refugiados não têm, até porque saíram fugidos de seus países, a documentação que comprova a escolaridade e a experiência de trabalho”, disse Ponte Neto. Segundo ele, a maior parte dos refugiados – distribuídos principalmente no eixo Rio-São Paulo - é proveniente da África, sendo que 60% são de Angola.
O congolês Kembo Ndombasi chegou ao Brasil em 2008, escondido no porão de um navio. Ele fugia da guerra civil em seu país e corria risco de morte por motivos políticos. Ndombasi fez curso de informática no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e chegou a trabalhar por um ano e meio. Atualmente desempregado, ele agora luta por uma nova chance. “Se Deus quiser, vou encontrar outro emprego”, disse Ndombasi, que sonha em trazer o filho deixado na África para assistir aos jogos da Copa do Mundo no Brasil.
A kosovar Miljana Ristic, formada em Letras e com a metade de um curso de Psicologia feitos na Sérvia, teve que sair de seu país em 2006, depois de passar sete anos trabalhando para a ONU na reconstrução da região, estraçalhada por uma sangrenta guerra étnica e religiosa na antiga Iugoslávia. “Depois de passar dificuldades no início, eu me virei, aprendi a língua e hoje trabalho como guia de turismo. Mas com o meu potencial, eu gostaria de um emprego melhor”, disse Miljana.
O turismo também foi a solução encontrada pelo ossetiano Andro Tibilov, que chegou a ser ator, dublê e diretor de filmes na então União Soviética, mas nunca conseguiu exercer sua profissão no Brasil. Hoje ele mantém uma pequena agência focada em roteiros de pesca na Amazônia, dirigida principalmente para turistas russos. “Teve uma guerra separatista na Geórgia e eu peguei minha família e vim para cá. Já tentei várias vezes um emprego na área de cinema aqui, mas é difícil”, disse Tibilov, que disse estar feliz no Brasil, mas confessa a frustração de não trabalhar mais com o cinema, sua grande paixão.
Edição: Aécio Amado