Argentina terá primeiro julgamento de crime contra a humanidade

01/09/2011 - 12h18

Renata Giraldi*
Repórter da Agência Brasil


Brasília – A Justiça da Argentina promove na próxima segunda-feira (5) o primeiro julgamento envolvendo crimes de lesa-humanidade no país. A sessão no Tribunal Oral Federal ocorrerá na cidade de San Juan e será filmada. Será julgado um casal que assumiu a paternidade de uma criança retirada dos pais, que eram ativistas políticos. O julgamento é considerado emblemático devido aos numerosos casos semelhantes ocorridos ao longo da história do país.

Segundo a denúncia, em 1980, o casal Luis Alberto Tejada e Raquel Josefina Quintero registrou como filho uma criança que foi retirada dos pais – que desapareceram na ditadura militar argentina (1976-1983). O bebê tinha menos de 1 ano de idade, de acordo com relatos.

Tejada, militar e ex-funcionário do Departamento de Inteligência do governo da Argentina, e a mulher são suspeitos de assumir a paternidade do filho do casal Luis Francisco Goya, argentino e integrante do grupo Montoneros, e María Martínez Lourdes Aranda, mexicana.

O julgamento será filmado, com autorização da Suprema Corte de Justiça da Argentina, que determinou que o material seja remetido para a Escola Nacional de Cinema. A ordem se estende a todos os julgamentos que envolvam os crimes contra a humanidade. Pelo direito internacional, são considerados crimes contra a humanidade aqueles que envolvem atos de perseguição, agressão ou assassinato de grupos e também o genocídio.

Estima-se que cerca de 30 mil pessoas tenham desaparecido durante a ditadura argentina. Segundo relatos, eram comum casos de bebês e crianças retirados do colo dos pais, perseguidos políticos. O movimento denominado Mães e Avós da Praça de Maio atua para não deixar que o assunto caia no esquecimento.

A Escola de Mecânica da Marinha (Esma), em Buenos Aires, ficou conhecida como o maior centro de tortura da ditadura argentina. Para entidades civis, cerca de 4 mil pessoas desapareceram depois de passar pelo local.

*Com informações da agência pública de notícias da Argentina, Telam // Edição: Juliana Andrade//A matéria foi alterada às 19h33 para correção da data do julgamento