Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O servidor público Deusdedit Guimarães precisou de alguns minutos e muitos dedos das mãos para listar os nomes dos filhos – nove, no total. Aos 51 anos, ele cuida sozinho de cinco deles, sendo três adotados. “Você não separa e diz: Esse é biológico, esse por adoção. São todos filhos. Os cuidados, os medos, as dificuldades e os problemas são idênticos”, contou.
Deusdedit passou a viver sozinho com os filhos quando a ex-mulher apresentou problemas de saúde, há cerca de três anos. Juntos, eles tiveram João Pedro e Joaquim e também adotaram o sobrinho Wellington. A vontade de ter uma menina fez com que o casal adotasse Débora e, em seguida, Érica. Por fim, a dupla também adotou os gêmeos Marcos e Mateus. Após o fim do casamento, o servidor público teve mais um filho biológico, Eduardo.
Todo domingo, pai e filhos – pelo menos os que têm espaço na agenda – se reúnem para uma conversa. Deusdedit faz questão de conhecer os amigos dos filhos, os locais frequentados e o que gostam de fazer nas horas vagas. Prestes a se tornar avô pela segunda vez, ele garante que está “feliz da vida” com o rumo tomado pela prole.
“O que eu poderia fazer por eles eu fiz e faço. O retorno é a alegria e a felicidade”, disse. “Cada um tem a sua individualidade. Você aprende com eles. Eu mudei a minha forma de ser, de conduzir e educar os filhos. Você muda pra melhor, com certeza”, resumiu.
De acordo com a psicóloga Soraya Pereira, homens que já são pais ou que decidem se tornar pais, atualmente, estão mais próximos dos filhos e mais conscientes do seu papel. Presidente da organização não governamental (ONG) Projeto Aconchego, ela destacou que os homens se mostram, inclusive, mais abertos a experiências como a adoção tardia e não se limitam à preferência por crianças recém-nascidas.
“Quando o homem decide adotar, normalmente já vem com uma certeza e uma predisposição muito grande para fazer aquilo dar certo. São adoções em que eles aceitam a ajuda de um grupo, procuram profissionais para ajudá-los nessa construção”, explicou.
É o caso do cirurgião ginecológico Benedito Fernandes. Pai de quatro filhos e avô de seis, decidiu, aos 64 anos, que seria pai novamente. O médico visitava a ala de cirurgia pediátrica do Hospital Universitário de Brasília (HUB) quando conheceu João Paulo, na época com 1 ano e meio. No primeiro encontro, a criança correu pelo corredor, abraçou Benedito e já o chamou de “papai”.
O cirurgião passou a acompanhar a evolução do quadro clínico de João Paulo e, durante um episódio de coma da criança, prometeu a si mesmo que se o menino se recuperasse, não teria mais que lutar pela vida sozinho.
“Me dei conta que tínhamos um laço que não podia mais ser desfeito. Daria tudo o que pudesse para abrandar a situação dele. O amaria pelo resto da minha vida. Não tive dúvida nenhuma”, contou, emocionado. Mesmo sozinho, adotou o menino que, atualmente, tem 15 anos.
Para o médico, João Paulo veio definir uma expressão que havia ouvido diversas vezes – amor incondicional. “Ele me mostrou que não fui o pai que gostaria de ter sido com os meus outros filhos. Trabalhava 18 horas por dia e achava que ser pai era prover. Mas eu me perdoo por isso”, concluiu.
Edição: Graça Adjuto