Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Especialistas em transplante de medula óssea do Brasil e da América do Sul estão estudando a possibilidade de criação de uma sociedade latinoamericana, em atendimento a uma solicitação da Organização Mundial da Saúde (OMS). O objetivo é que essa entidade possa representar a região e fornecer dados epidemiológicos para a OMS.
A informação foi dada hoje (14) à Agência Brasil pelo presidente do 15º Congresso da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (SBTMO), o hematologista Luis Fernando Bouzas. Ele é diretor do Centro de Transplante de Medula Óssea do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e coordenador nacional do Registro de Doadores de Medula Óssea (Redome). O congresso foi encerrado hoje no Rio.
O Redome conta atualmente com 2,4 milhões de doadores. “É o terceiro maior registro do mundo e tem captação anual de 400 mil a 500 mil doadores. É um dos registros que mais cresce no mundo e é abrangente, ou seja, está buscando doador em todas as partes do país, baseado na rede dos hemocentros e dos laboratórios de histocompatibilidade, que hoje estão bem disseminados”.
O Inca busca agora a qualificação do registro, para que seja em quantidade suficiente, e que os doadores estejam fidelizados, mantenham seus cadastros em dia e possam ser localizados facilmente em caso de necessidade, disse Bouzas. Outra meta é buscar, dentro da população brasileira, segmentos específicos que apresentam dificuldade genética em encontrar doador. Um exemplo é a baixa participação de pessoas orientais.
O trabalho vai direcionar as campanhas para as regiões de menor representatividade no Redome, como o Nordeste, o Norte e o Centro-Oeste. Não estão sendo mais recomendadas campanhas abertas, sem direcionamento, explicou o especialista. “A gente agora está tentando orientar os centros para que façam campanhas em nichos específicos da população”.
Uma dificuldade que a Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea está procurando resolver no Ministério da Saúde é a criação de leitos em regiões onde as atividades não são contempladas, além do aumento do número disponibilizado atualmente. Hoje, 90% dos transplantes são custeados pelo sistema público de saúde, que conta com um total de 350 leitos. “É insuficiente”. São necessários, segundo Bouzas, mais 80 leitos para atender à demanda do país, além da qualificação dos leitos existentes e do treinamento das equipes. “Não adianta criar leitos se não há equipes”, observou.
O Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (Rereme), criado em 2000, tem um estoque de 6,8 mil pacientes inscritos. Desses, entre 800 e 1000 estão atualmente na fase de busca de doadores, sendo cerca de 700 ativos.
A meta este ano é chegar a 200 ou 210 transplantes realizados, o que representará acréscimo de cerca de 30% em relação ao ano passado, quando foram feitos 167 transplantes. Até junho, foram 110 transplantes. “Só transplantes com doadores oriundos do Redome”, disse Bouzas. Para ele, embora seja subnotificado no Brasil, o total de transplantes de medula óssea no país se encontra na faixa de 1,8 mil a 2 mil.
Aí estão incluídos todos os tipos de transplantes: autólogos, isto é, que utilizam material da própria pessoa; alogênicos (com doador aparentado); e com doador não aparentado.
Bouzas acrescentou que a informatização do Redome contribuiu para ampliar o número de doadores, ao mesmo tempo em que facilitou a comunicação entre os laboratórios e os hemocentros e a formação do cadastro do Rereme. O Inca está buscando, no momento, promover a atualização dos dois sistemas.
O transplante de medula óssea é a única chance de cura para leucemias agudas e crônicas, vários tipos de anemias graves adquiridas e congênitas, vários tipos de imunodeficiências, linfomas e tumores. “São em torno de 60 a 70 doenças diferentes que podem ser tratadas com o transplante, muitas delas obtendo cura com esse procedimento”. Bouzas explicou que também o diabetes tipo 1 e a multiesclerose, doenças autoimunes, podem ser controladas com o transplante autólogo de medula óssea. “É uma alternativa para doenças que não têm perspectiva de tratamento”.
Edição: Graça Adjuto