Rio de Janeiro – Um clássico do cinema brasileiro, o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, ganhou versão teatral, com apresentações na Sala Glauce Rocha, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), até o próximo dia 22.
A montagem é uma produção da Cia Provisória, núcleo de pesquisa em teatro musical formado por alunos da Escola de Teatro da Unirio. Criada há três anos, a Cia Provisória estreou com a montagem de Calabar, o Elogio da Traição, peça de Chico Buarque e Ruy Guerra, e chega agora ao seu segundo trabalho voltado para uma temática brasileira.
Lançado em 1964 e premiado em vários festivais internacionais, Deus e o Diabo na Terra do Sol é considerado um marco do Cinema Novo e da obra de Glauber. Além de diretor, o cineasta foi responsável pelo argumento, pelos diálogos, juntamente com Paulo Gil Soares, e pelas letras da música da trilha sonora, composta por Sergio Ricardo.
O filme conta a história do casal de camponeses Manuel e Rosa, que vivem a fome e a miséria do sertão. Após descobrir que foi enganado por seu patrão, o coronel Morais, Manuel o mata e foge com a mulher, juntando-se aos seguidores de um beato, o Santo Sebastião.
“Uma das coisas que nos impressionam muito é a qualidade dramatúrgica da música de Sergio Ricardo, além de toda a força da brasilidade do filme, que já é bem conhecida de todos”, avalia o diretor da peça, Jefferson Almeida.
Para ele, a montagem de Deus e o Diabo na Terra do Sol representou um triplo desafio para o grupo, preocupado em estudar a colocação da música na cena teatral. “O primeiro [desafio] foi a transposição, para o teatro, da obra, criada para ser um filme, com linguagem e estéticas próprias do cinema. O segundo, colocar a música, que, no filme, é trilha sonora, como parte do texto da peça, cantada pelos atores, e, por fim, vencer o desafio das possibilidades ‘brechtianas’ do argumento de Glauber”, explica.
De acordo com Almeida, o espetáculo não é exatamente um musical, apesar de os atores cantarem ao vivo todas as músicas compostas para o filme. “Se você considerar que um musical é aquele espetáculo em que a música está a serviço do texto, então é um musical. Mas se for dentro do que hoje se entende como sendo o gênero, que são esses grandes espetáculos apoteóticos, não. É uma peça em que a música tem uma função fundamental para que a dramaturgia aconteça”, analisa.
Segundo o diretor, houve apenas uma tentativa anterior de transpor o filme para o teatro, na própria Unirio, em 1992, mas pouco ficou de registro dessa montagem. A intenção do grupo é levar o espetáculo para outros espaços, fora da universidade, mas isso depende de negociações com a Tempo Glauber, instituição detentora dos direitos autorais da obra do cineasta, juntamente com a Fundação Cinemateca Brasileira. “Enquanto exercício acadêmico, a Lei do Direito Autoral nos protege e a peça pode ser encenada na Unirio, sem fins lucrativos”.
Com entrada franca, a peça baseada no filme Deus e o Diabo na Terra do Sol poderá ser vista até o dia 22, de segunda a sexta-feira, às 19h.
Edição: Lana Cristina