Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A decisão do Federal Reserve (FED), o Banco Central dos Estados Unidos, de manter os juros baixos por, pelo menos, mais dois anos, não muda muito o quadro atual de volatilidade das bolsas mundiais. A análise foi feita hoje (9) à Agência Brasil pelo coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Armando Castelar. “Não chega a significar nada muito grande, não. Tanto que a subida das bolsas está diminuindo”.
Para o economista, a expectativa em torno da reunião de hoje do FED explicou a recuperação sentida hoje na Bolda de Valores de São Paulo (Bovespa) após a queda expressiva de 8,08%, ontem (8). A decisão do FED "quer dizer apenas que ele não vai fazer nada que contraia a economia”, disse Castelar. O problema continua sendo, para ele, a combinação de baixo crescimento com desequilíbrio fiscal.
A crise norte-americana que afetou as bolsas mundiais já era anunciada há alguns meses, analisou Castelar. “O rebaixamento [da nota de risco da dívida dos Estados Unidos] teve um valor mais simbólico do que qualquer outra coisa”. Tanto é que os títulos americanos subiram de preço, observou.
Castelar explicou que, como os países ricos estão muito endividados, há a percepção de que o crescimento mundial vai ser baixo este ano. “E crescimento mundial baixo dificulta muito resolver o problema fiscal, porque as receitas tributárias ficam reduzidas e você precisa de mais gastos para o seguro desemprego, para programas de assistência social e assim por diante”.
Para o economista da FGV, as bolsas de valores subiram mais do que a recuperação das economias desde o início de 2009, por causa dos pacotes governamentais de estímulo e da liquidez que havia nos mercados. Agora, em função das estatísticas liberadas na última semana, referentes ao Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, as bolsas estão se adaptando a uma realidade nova “de que o mundo, na verdade, não está indo muito bem. Os Estados Unidos estão crescendo quase nada, a Europa está desacelerando”.
A crise, para Castelar, decorre da percepção de que o mundo vai crescer pouco e de que há uma chance de mergulhar em uma nova recessão. “Com isso, fica muito difícil a situação fiscal, que reduz os instrumentos que os governos têm para fazer frente à crise, como eles foram capazes de fazer em 2007”.
No Brasil, a Bovespa vem sofrendo quedas, segundo Castelar, também por “questões nossas”. Entre elas, a ingerência excessiva do governo, de acordo com a visão do mercado, no processo de capitalização da Petrobras e na mudança do comando da mineradora Vale, além das incertezas em relação à inflação.
Edição: Vinicius Doria