Miriam Moura
Correspondente da EBC em Londres
Londres - Comerciantes de diferentes regiões da capital britânica fecharam as portas mais cedo hoje (9) com receio de novos tumultos. Na terceira noite de violência nas ruas de Londres, os distúrbios se expandiram para bairros centrais de classe média da capital britânica e atingiram outras cidades da Inglaterra, espalhando o medo entre a população. Até esta tarde, o Ministério do Interior havia confirmado a prisão de 563 pessoas para tentar conter os distúrbios. Estima-se que 300 pessoas tenham sido presas na capital somente na madrugada desta terça-feira.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, que teve de interromper as férias na Itália e retornar a Londres, reuniu-se com o integrantes do gabinete de crise pela manhã. Depois, em pronunciamento à nação, garantiu que o governo fará tudo o que for preciso para manter a ordem e convocou o Parlamento a antecipar o fim do recesso para quinta-feira (11). Cameron, do Partido Conservador, classificou as desordens violentas como “pura e simples criminalidade” e anunciou que hoje à noite haverá um contingente de 16 mil policiais nas ruas.
Durante os protestos, lojas foram saqueadas e carros e prédios, incendiados. Cameron condenou as “repugnantes cenas de saques, vandalismo e roubo”. Ele disse que os envolvidos nos atos de violência serão punidos com o rigor da lei. “Se tinham idade suficiente para cometer os crimes, terão idade também para sofrer as punições”. Depois, o primeiro-ministro se reuniu com o comando da Polícia Metropolitana (Scotland Yard). Todas as férias e licenças dos policiais foram suspensas.
O prefeito de Londres, Boris Johnson, do Partido Conservador, também interrompeu as férias. Ele foi duramente questionado pelos moradores em visita ao bairro de Croydon, palco de violentos protestos durante a madrugada.
Os protestos começaram na noite de sábado (6) em Tottenham, bairro do norte de Londres de classe de renda mais baixa, e foram causados pela morte de Mark Duggan, de 26 anos, por policiais na quinta-feira passada. A violência e os tumultos atingiram outros bairros na noite de domingo. Na madrugada desta terça-feira, o tumulto chegou a bairros da classe média da capital londrina, como Ealing (oeste de Londres), Clapham (sul) e Camden Town (norte).
O subcomissário assistente da Polícia Metropolitana, Steven Kavanagh, disse que foi “chocante e horrível para Londres acordar de manhã”. Segundo ele, a polícia está sendo forçada a recorrer a todos os recursos disponíveis para combater os tumultos, como nunca havia feito até hoje. Pelo menos 69 pessoas foram acusadas de várias infrações e responderão a processo.
Morador de Liverpool, Stephen Hope, de 17 anos, criticou a atitude de jovens que participaram dos protestos. “Tenho emprego, pago meus impostos e acho que o comportamento demonstrado por uma minoria de jovens é uma desgraça”, lamentou. “É o tipo de comportamento que alimenta a raiva dos adultos contra a maioria das pessoas da minha idade, o que é injusto.”
Para o criminalista John Pitts, assessor de várias administrações regionais (subprefeituras) de Londres, ainda não é possível saber a razão para as desordens violentas que surpreenderam as autoridades e a população. Para ele, não se pode fazer um movimento dessa magnitude sozinho. “Em algum momento, as multidões maiores que se confrontam com a polícia se dão conta de que estão no controle da situação.”
Edição: Juliana Andrade