Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O desaquecimento dos investimentos em energia nuclear, após o acidente na Usina Nuclear de Fukushima, em decorrência do terremoto seguido de tsunami que abalou o Nordeste do Japão, em março passado, impõe desafios ao mundo. As restrições à energia nuclear serão vencidas com tecnologia, mas todas as soluções resultarão em aumento do custo de energia. Foi o que afirmou à Agência Brasil o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde de Castro.
O Setor Elétrico Pós-Fukushima é tema de seminário que o Gesel realiza hoje (9) na Casa da Ciência, no Rio, com a participação do diretor da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Amílcar Guerreiro, e de executivos da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras.
Segundo Castro, para as nações desenvolvidas e os grandes países emergentes, como a China e a Índia, o desafio é muito grande porque esses países estavam apostando muito - “e alguns ainda estão” – na energia nuclear. A primeira reação, de caráter político, tomada diante da tragédia de Fukushima, foi não trabalhar mais com energia nuclear. Enquadram-se aí países como a Alemanha, Suíça, Áustria, Itália e o próprio Japão.
Nivalde de Castro observou que essa decisão traz consequência grave para o desenvolvimento do país e do setor elétrico, uma vez que a energia nuclear tem grandes vantagens para essas nações - consideradas grandes poluidoras - “porque contribui para a diminuição das emissões de gases de efeito estufa”.
A redução de utilização da energia nuclear amplia a necessidade de importação de insumos energéticos nesses países. Esse desafio, na avaliação do Gesel, vai ser vencido por meio de uma revolução tecnológica na área das energias renováveis, em especial a eólica (dos ventos) e a solar.
Castro acrescentou que outra rota a ser desenvolvida é a das tecnologias com captura de gás carbônico para usinas termelétricas a gás natural e a carvão. “Esses países vão fazer um esforço tecnológico para conseguir esses insumos, que são poluidores, mas diminuindo a poluição”.
Uma terceira rota tecnológica é a busca de eficiência energética, principalmente na parte residencial, com a construção de casas e prédios inteligentes, buscando o desenvolvimento de cogeração e geração distribuída. O economista do Gesel acredita que alguns países com ritmo de desenvolvimento mais acelerado - caso do Japão, da Índia, da África do Sul e do Leste Europeu - devem continuar investindo em energia nuclear, mas com desaceleração do crescimento, “aguardando uma nova geração de usinas nucleares com grau de segurança maior”.
Todos esses cenários são de aumento do custo da energia, frisou. Para Castro, o Brasil, é um ponto fora dessa curva, porque tem recursos naturais em abundância, com destaque para a energia hidrelétrica e eólica. Além disso, o país tem gás natural e um grau baixo de emissão de gás carbônico do setor elétrico como um todo.
“O Brasil vai se aproveitar do desenvolvimento tecnológico que vai ocorrer”. Ele pode operar usando os recursos naturais disponíveis, como a hidreletricidade, e irá postergar o programa nuclear, esperando ter acesso a usinas nucleares mais seguras, analisou o coordenador do Gesel.
Edição: Graça Adjuto