Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O aumento da inflação reduz o poder de compra da população e traz preocupação com a inadimplência. Se as pessoas estão pagando mais caro por alimentos, por outros produtos e pelos serviços, sobra menos dinheiro no bolso para pagar os empréstimos. Além disso, a expectativa de menor crescimento econômico para este ano leva à redução da renda e de postos de trabalho, o que também contribui para o crescimento da inadimplência, segundo avaliação de economistas.
Mas o assessor econômico da Serasa Experian, Carlos Henrique de Almeida, afirma que a inadimplência neste ano, apesar de ficar maior que no ano passado, não será recorde. A previsão da Serasa para este ano é 8%, sendo que em 2010 a inadimplência ficou em 6,3%. “Não é uma inadimplência recorde, mas todo aumento de inadimplência não é uma boa notícia”, afirma.
E o efeito da alta da inflação já se reflete no comportamento de consumidores, como observa o segurança Ednaldo Fernandes de Oliveira, de 27 anos. “Estas notícias me preocupam porque eu não vou poder comprar mais como comprava. Já diminuí bastante as compras porque ainda tenho dívidas para quitar”, conta.
A babá Luiza Nascimento, de 38 anos, também se diz preocupada com a alta dos preços. “Esta inflação traz muita preocupação porque com qualquer atraso os juros são um horror. Eu sempre evitei fazer dívidas porque se eu não puder pagar hoje, não vou poder pagar futuramente."
O agente comercial dos Correios, Josias Galdino Siqueira, de 58 anos, que comprou um carro em 60 prestações, diz que faz todas as compras de forma planejada. “Eu só faço dívidas que eu sei que vou conseguir pagar. Eu sempre fico de olho nas promoções. Comprei o carro, mas com o preço da gasolina, vou usá-lo só em último caso, só em necessidade."
Já para o funcionário público Erasmo Bandeira, de 63 anos, a inflação não assusta. “Comprei um carro parcelado em 24 vezes. Por enquanto a inflação não está me assustando. Brasileiro sempre vive com dívida. Eu continuo comprando porque é o jeito."
O assessor econômico da Serasa orienta os consumidores a evitarem dívidas longas, com muitas parcelas. “As pessoas devem evitar o endividamento de longo prazo porque envolve uma incerteza maior. Não dá para saber se a pessoa estará empregada. Além disso, as taxas de juros são maiores”, afirmou. Entretanto, ele ressalta que um financiamento mais longo, para a compra de uma casa, por exemplo, pode ser tomado por quem não está muito endividado e se não for comprometer grande parte da renda com as parcelas. “Depende de quanto de renda ele vai comprometer, do perfil do tomador de crédito”, salienta Almeida.
Além das dívidas que envolvem muitas parcelas, Almeida sugere que os consumidores evitem o rotativo do cartão de crédito e o cheque especial. “O brasileiro vai pela facilidade do recurso disponível e não avalia o custo do crédito. Estas são modalidades que deveriam ser usadas apenas em situação de emergência, mas as pessoas usam o cheque especial como complemento de renda e usam o crédito rotativo várias vezes”, destaca.
Quando for necessário pegar um empréstimo, é preciso fazer comparações entre as modalidades e as taxas de juros, segundo os economistas. Para se ter uma ideia, enquanto a taxa de juros do cheque especial chegou a 174,6% ao ano, em março deste ano, o juro cobrado pelo crédito pessoal, incluídas as operações de empréstimo consignado, ficou bem mais baixo, em 47,3% ao ano, de acordo com dados do Banco Central (BC).
O economista Newton Marques considera que também é importante cortar despesas quando os gastos superam as receitas. “Se a pessoa já estiver endividada, é preciso cortar todas as despesas supérfluas e renegociar dívidas”, orienta.
Almeida explica que a inadimplência sobe em períodos de alta da inflação por dois motivos. Um deles é que o BC aumenta a taxa básica de juros, a Selic, para conter a inflação. Como a Selic serve de referência para as demais taxas, os juros dos empréstimos também sobem. Além disso, em momento de expectativa e de aumento da inadimplência, os bancos querem se proteger dos calotes e aí sobem ainda mais os juros.
“A inflação penaliza as classes mais baixas. As classes mais altas fazem aplicações financeiras que dão cobertura sobre a inflação. Além disso, as pessoas das classes mais baixas são novatas, têm pouca experiência em lidar com o crédito”, destaca Almeida.
Edição: Andréa Quintiere
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