Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O novo Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae), que está sendo atualizado pelo governo, pretende incluir a tecnologia de satélites que tenham a capacidade de medir com mais precisão a intensidade das chuvas, para dar melhores informações sobre precipitações que podem causar desastres naturais. A tecnologia poderá gerar sistemas de alerta, junto com modelos de prevenção de riscos em encostas, disse hoje (2) o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Marco Antonio Raupp, ao falar na Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Para desenvolver esse sistema, a AEB vai buscar cooperação com a Administração Nacional do Espaço e da Aeronáutica (Nasa), a agência espacial dos Estados Unidos. O custo para o Brasil é estimado em US$ 70 milhões. “Isso, junto com o satélite geoestacionário, dá uma perfeita cobertura para uso de meteorologia e para e questão de alerta de acidentes naturais”.
De acordo com Raupp, isso poderá ser feito porque o novo Pnae vai estimular a assinatura de acordos de cooperação internacional que permitirão ao Brasil suprir o déficit de acesso a tecnologias. “Você não pode desenvolver todas as tecnologias de que precisa para fazer um satélite ou um foguete. Para ganhar tempo, você compra fora”. Como o Brasil é signatário do tratado de não expansão de tecnologias de mísseis, ele está submetido a um controle rigoroso em relação a tecnologias sensíveis, porque muitas dessas tecnologias têm aspectos duais, isto é, podem ser utilizadas também para fins militares, ressaltou.
Para o presidente da AEB, a discussão sobre a atualização do Pnae vai resultar em um novo portfólio de projetos. “Vamos referendar alguns que estão em pleno desenvolvimento, vamos incluir novos ou descartar alguns que não têm condições. Se a gente achar que um projeto não tem viabilidade, nós vamos descartar em benefício de outros”.
Dentre os projetos existentes, uma das prioridades é o Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (Cbers), em colaboração com a China. ”Nós temos todo interesse em prosseguir. Estamos propondo aos chineses que a gente dê continuidade a esse programa. E mais: que a gente direcione ele para itens tecnológicos que não foram considerados até agora”.
Os satélites desenvolvidos dentro da parceria Brasil-China usam sensores com imageadores ópticos. Raupp disse que a ideia é que eles tenham também imageadores de radar. “É uma forma de você imagear a superfície não por meio de ondas de luz, mas por ondas de radar. A vantagem é que você enxerga através de nuvens”. O uso desses equipamentos será positivo, em especial, na Amazônia, que em mais da metade do tempo está coberta de nuvens, afirmou.
Ele disse também que o Brasil deseja incrementar a cooperação com a Argentina, promovendo testes conjuntos dos satélites. O objetivo é fazer a observação do mar, em áreas costeiras e em áreas mais distantes. ”Queremos ter dois satélites”. O equipamento total terá peso de 500 quilos em uma órbita intermediária de 700 quilômetros e, por isso, poderá ser lançado por veículos menores, ao custo de US$ 15 milhões, enquanto o lançamento de um satélite geoestacionário alcança até US$ 70 milhões, disse o presidente da AEB. “É algo mais viável para nós e presta bons serviços também”.
A AEB quer, também, abrir missões científicas para que as universidades ampliem a sua participação no programa espacial. Para mostrar a importância estratégica dessa área para o país, Raupp comparou que o quilo de um satélite vale US$ 50 mil, contra US$ 0,20 do quilo de soja exportada. Também na área de pessoal qualificado, ele indicou a necessidade de crescimento da atividade espacial no Brasil. Enquanto a Nasa e seus institutos associados têm 70 mil funcionários, no Brasil eles somam apenas 3 mil, distribuídos entre o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Centro Técnico Aeroespacial (CTA) e as empresas espaciais.
Edição: Aécio Amado