Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Uma mostra de arte tão distinta como são também distintas as histórias de cada mulher criadora de cada peça. Na exposição Mulheres, Artistas e Brasileiras - Produção do Século 20, que será inaugurada amanhã (23), às 19h, no Palácio do Planalto, é possível observar a arte de mulheres rústicas do Vale do Jequitinhonha, de artistas modernistas que revolucionaram a cultura brasileira na Semana de 22, até obras de requintadas mulheres, embaixatrizes, com sua arte reconhecida em todo mundo.
A mostra foi um pedido pessoal da presidenta Dilma Rousseff para comemorar o Mês da Mulher. Ela ficará aberta ao público todos os dias, de 24 de março a 5 de maio, das 10h ás 16h.
Para o curador da exposição, José Luis Hernández Alfonso, que também é curador do Museu de Arte Brasileira (MAB) da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), o que existe de comum entre essas diferentes mulheres muito mais que uma arte feminista é a criatividade. "Uma produção de mulheres artistas não significa que é uma arte feminista. A arte não tem gênero. O que vale é a criatividade. Seria um absurdo. Seria no mínimo, minimizar o caráter da mulher como criadora", disse.
A grande estrela da exposição é o quadro Abaporu, obra de Tarsila do Amaral, símbolo do Movimento Antropofágico, característica maior do Modernismo brasileiro. O quadro veio de Buenos Aires e, emprestado, sob rígidas condições, pelo colecionador Eduardo Costantini, dono do Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires (Malba). Em 1995, Costantini arrematou o quadro em um leilão em Nova York, por U$ 1,5 milhão.
Entre as exigências de ordem técnica, segundo Alfonso, estão o controle da umidade, condições de iluminação que não interfira na pigmentação da tela e o cuidado para que o quadro fique a uma distância de 1 metro do visitante. Além disso, o transporte de Buenos Aires para Brasília teve que ser feito na parte da noite, com temperatura mais amena, e todo traslado, por medida de segurança, precisou ser acompanhado por batedores.
Outro cuidado adotado pela organização da mostra, por exigência do proprietário, foi o quadro ficar por 24 horas acondicionado em uma caixa especial, devidamente aclimatado, para só depois ser colocado no local onde está exposto, no Palácio do Planalto.
Além de Abaporu, as pessoas também poderão apreciar outras obras de Tarsila do Amaral: Garimpeiros (1938), O Porto (1953), Nu (1922), Retrato de Vera Vicente de Azevedo (1937) e dois autorretratos pintados em 1921 e 1923.
Anita Malfatti é outra grande pintora brasileira que terá suas obras expostas no Palácio do Planalto. O visitante terá a oportunidade de ver os quadros Valência (1927), Canal de Veneza (1927), Paisagem de Ouro Preto (1958), entre outros.
Alfonso explicou que Anita Malfatti e Tarsila do Amaral serão as principais homenageadas, por terem dado início à sólida e constante participação da mulher na arte brasileira. A exposição, segundo ele, também vai apresentar obras de Djanira, inclusive um painel pintado em 1963 que fica no gabinete da Presidência da República e a tela Costureira (1951).
Alfonso evitou falar em valores mas assegurou que as despesas com a montagem da exposição, traslado e reunião das obras não saíram por menos de R$ 1,5 milhão.
As bonecas de barro do Vale do Jequitinhonha foram um dos pedidos feitos pela presidenta Dilma Rousseff, que também se empenhou para que Abaporu pudesse fazer parte da exposição. Alfonso disse que a presidenta gostou tanto da mostra que a visitou durante a montagem e, mesmo depois de apresentá-la ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, no último sábado, já a visitou mais duas vezes. "A presidenta já visitou a exposição várias vezes", disse.
Segundo Alfonso, a pintura de que a presidenta mais gostou foi a tela Paisagem Marítima com Duas Moças, da artista paulista Noêmia Mourão, concebida em 1937. Entre as esculturas, Dilma ficou impressionada com O Beijo, de Ana Maria Tavares, uma obra em aço-carbono sobre alumínio feita em 1958.
Um pedido especial da presidenta, de acordo com o curador, foi localizarr obras que estavam escondidas em muitos prédios de órgãos públicos. "São obras importantes praticamente desconhecidas. Elas estavam nos subsolos. São obras que ninguém vê", disse.
Abaporu é a única peça na exposição pertencente a um colecionador particular. As demais são propriedade de órgãos públicos, como o Banco Central do Brasil, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e dos acervos do Museu de Arte Brasileira da FAAP, do Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, do Museu de Arte de Brasília, do Museu Nacional de Belas Artes, do Museu Castro Maya e do Museu da República.
A exposição Mulheres, Artistas e Brasileiras - Produção do Século 20 é dividida em oito blocos. O primeiro reúne 29 pinturas, com as principais representantes do modernismo brasileiro, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, além de Djanira. E obras das artistas Zélia Salgado, Tomie Ohtake, Leda Catunda, entre outras.
O segundo bloco é composto por desenhos de artistas como Noêmia Mourão e Mira Schendel. O passeio pela mostra conduz ao espaço que concentra 14 esculturas e objetos criados por Regina Silveira, Mary Vieira e Maria Martins. Impressiona a leveza da obra Folhas, de Geórgia Kyriakakis, uma instalação feita de cerâmica pintada.
Na seção de gravuras estão dispostas 18 peças de, entre outras, Renina Katz, Maria Bonomi, Anna Letycia e Fayga Ostrower, além de obras fotográficas de artistas como Rosângela Rennó.
O espaço dedicado à tapeçaria reúne peças de Gilda Azevedo e Shirley Paes Leme. Já na seção dedicada às obras populares, estão expostas pinturas de Dalva de Oliveira, Cidinha Pereira e Zica Bergami.
Edição: Aécio Amado