Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Marcada pelo baixo crescimento na última década, a economia do Japão enfrenta o desafio de levantar recursos para se recuperar do desastre do terremoto e do tsunami que destruiu parte da Região Nordeste do país. O principal dilema apontado por especialistas consiste em reconstruir o país sem agravar o desequilíbrio fiscal, expresso na dívida pública de 200% do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, no fato de que o governo japonês deve o dobro de tudo o que o país produz em um ano.
Segundo relatório divulgado hoje (14) pelo banco Credit Suisse, as perdas econômicas no Japão somarão de 14 trilhões a 15 trilhões de ienes, o equivalente a algo entre US$ 171 bilhões a US$ 183 bilhões. De acordo com a instituição, esse valor tornaria a catástrofe o desastre natural mais caro de todos os tempos.
Para o economista da Tendências Consultoria, Raphael Martello, as estimativas de danos ainda são imprecisas já que outros tremores podem atingir o país. “Outros tremores ainda podem acontecer, sem contar a ameaça de desastre nuclear”, afirma. Dessa forma, o valor final dos prejuízos levará meses para ser conhecido e poderá ficar maior que o inicialmente projetado.
Em tese, os trabalhos de reconstrução estimulam a economia, à medida que o governo e o setor privado ampliam os investimentos, principalmente em infraestrutura. O professor de economia André Nassif, da Universidade Federal Fluminense, acredita, no entanto, que o efeito da reconstrução sobre o crescimento econômico é apenas temporário.
“A estagnação da economia japonesa tem mais a ver com fatores estruturais do que com questões de curto prazo. A grande pergunta é se os esforços de reconstrução provocarão a retomada do crescimento sustentável do Japão, compatível com a média dos países ricos, que é de 3% a 4% ao ano”, observa.
Em 1995, quando um terremoto destruiu a cidade de Kobe, no Sul do Japão, o PIB do país cresceu 2,48%, contra 0,85% no ano anterior. No fim da década de 1990, no entanto, o Japão retomou a trajetória de estagnação e teve crescimento zero. Nos anos 2000, o país passou a crescer em torno de 1% ao ano, mas sempre em níveis inferiores aos dos países desenvolvidos.
Para obter recursos para a reconstrução, o governo japonês precisará emitir títulos, o que elevará a dívida pública do país. Apesar da situação fiscal delicada, Martello acredita que o Japão terá dificuldade em vender os papéis. “Nos últimos tempos, o tamanho da dívida pública tinha acendido a luz amarela no mercado, mas a situação agora é diferente. O governo japonês precisa de dinheiro não porque é leniente, mas para fazer frente a uma situação fora de controle”, explica.
O Japão também pode queimar parte das reservas internacionais para levantar recursos. A medida pode agravar a desvalorização do dólar (reduzindo o câmbio) ao ampliar a quantidade de moeda norte-americana em circulação. Os dois economistas, no entanto, não acreditam que essa medida terá impacto significativo sobre a cotação do dólar. “Esse processo deverá ser feito de forma coordenada para não afetar os mercados”, avalia Martello. “O que vai deter o derretimento do dólar é a recuperação dos Estados Unidos”, diz Nassif.
Edição: Lana Cristina