Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Os cerca de 5 mil catadores que vivem da coleta e reciclagem do lixo que chega diariamente ao depósito de Gramacho, em Duque de Caxias, temem ficar sem a principal fonte de renda com o anunciado fechamento do lixão até o final do ano. Retratados no documentário Lixo Extraordinário, feito com o artista plástico Vik Muniz e concorrente brasileiro ao Oscar na categoria, eles vivem exclusivamente de separar e vender as toneladas de resíduos que chegam dos municípios da região metropolitana do Rio.
A renda média dos catadores, segundo a prefeitura de Caxias, é de R$ 680, mas os mais experientes conseguem superar R$ 1 mil por mês. Com isso, eles sustentam suas famílias e ainda alimentam o comércio do Jardim Gramach. Apesar das condições de degradação, o bairro tem vários bares, lojas e supermercado.
“O meu medo é o lixão fechar e eu não ter de onde tirar o sustento da minha família, que vem todo daqui”, disse o catador Leandro Severo de Azevedo, que trabalha no local há dez anos. Ele reclamou que não estão sendo oferecidas alternativas para os catadores se qualificarem, como inclusão em programas sociais e capacitação profissional, e superarem a desativação do lixão. “Até agora nada, só promessas”, criticou Leandro, que diz ganhar cerca de R$ 400 por semana com a reciclagem.
O desemprego também é o maior temor do catador Mario Luiz Martins, viúvo e pai de cinco filhos. “Quando foi assinada a Lei de Resíduos Sólidos, pelo presidente Lula, dia 2 de agosto passado, ficou estabelecido que a partir de 2012 não haverá mais ninguém catando em aterro sanitário. Então, nós temos só este ano para trabalhar no lixão.”
“Quando terminar, vamos trabalhar nas cooperativas, recebendo coleta seletiva. Mas isso virou um gargalo, porque a coleta ainda não foi implantada”, afirmou Mario Luiz.
Uma das entidades que está tentando achar uma saída é o Fórum Comunitário de Jardim Gramacho, formado por 27 organizações, incluindo igrejas, escolas, representantes do município e cooperativas. Para a secretária executiva do fórum, Michele Oliveira, a situação dos catadores precisa de uma solução imediata, pois a falta de trabalho pode agravar os índices de criminalidade no bairro.
“O problema social vai acabar nas costas da prefeitura de Caxias. O lixão vai embora, mas os catadores vão ficar aqui. As pessoas têm medo do que possa acontecer, porque muitos não entram na vida do crime por causa do dinheiro ganho com o lixo. O nosso papel é alertar sobre isso”, disse Michele.
O secretário de Meio Ambiente de Caxias, Samuel Maia, afirmou que já estão sendo feitos planos para absorver os milhares de catadores após o fim do lixão, mas que isso depende da liberação de verbas. O dinheiro viria da empresa Nova Gramacho, constituída para explorar o gás metano do aterro, que tem obrigação de repassar, durante 15 anos, R$ 1,5 milhão por ano para um fundo municipal dos catadores. Outros R$ 400 milhões seriam alocados pela empresa com a venda de créditos de carbono.
“Vamos nos reunir com a Caixa Federal, que poderá antecipar a receita desses 15 anos. Com esse recurso, vamos fazer a capacitação para a entrada desses catadores no mercado de trabalho. Outra iniciativa é promovermos a coleta seletiva no município, que está sendo ampliada, e que poderá garantir sustento a esses catadores”, afirmou o secretário.
Para conseguir se inserir nos programas sociais do governo, os trabalhadores do lixão precisam estar cadastrados e ter os documentos em dia. Muitos deles aproveitaram o dia de hoje (27) para fazer a documentação durante o evento Aldeia da Cidadania, promovido no bairro pela empresa Furnas, que possibilitou a confecção de certidões de nascimento, carteiras de identidade e CPF.
O fechamento do aterro sanitário de Gramacho já foi tentado várias vezes, pois o gigantesco depósito de lixo está situado às margens da Baía de Guanabara, que pode sofrer um grave acidente ambiental se houver vazamento expressivo de resíduos para o mar. Um outro aterro sanitário, mais moderno, está sendo construído no município de Seropédica e será administrado por uma empresa privada. Mas o novo local também apresenta riscos ambientais, se não for corretamente fiscalizado, pois está sobre um grande manancial de águas subterrâneas, o Aquífero de Piranema.
Edição: João Carlos Rodrigues