Cresce entre os haitianos apoio à volta de ex-presidentes

19/01/2011 - 5h55

Luciana Lima*
Enviada Especial

Porto Príncipe - Opiniões a favor de Jean-Claude Duvalier, também conhecido como Baby Doc, e pela volta de outros ex-governantes ao país vem ganhando corpo na capital haitiana, o que aumenta a preocupação do atual governo, que tenta eleger Jude Celestin à Presidência. A ideia de que devem retornar ao país todos os agentes políticos que atuaram no passado, tema de manifestações públicas acirradas, encontra simpatizantes nos bairros mais pobres da capital.

“O filho do país tem que viver em seu país”, protestou Lefis Ferdna, 65 anos, morador de uma das áreas mais pobres de Porto Príncipe, a Cité Soleil. Ele viveu o período Duvalier (1957 a 1986) e também o governo de Jean-Bertrand Aristide, que foi presidente do Haiti em três períodos: em 1991, de 1994 a 1996, e novamente de 2001 a 2004.

Longe das manifestações, agarrado ao rádio de pilha, por meio do qual acessa as emissoras ligadas a outro político, Ferdna comenta sem muita preocupação. “Ouvi dizer que Aristide voltará também. Não posso confirmar”. Ele se recusa a acreditar na volta de Baby Doc ao poder, mas se mostra despreocupado com o destino político. “O que sei é que sinto fome. Estou há três dias sem comer”, reclama apontando para a barriga.

Nessa terça-feira (18), algumas rádios haitianas chegaram a noticiar como certa a volta de Aristide ao Haiti na próxima sexta-feira (21). Apoiadores do ex-presidente o consideram o primeiro líder democraticamente eleito do Haiti. Sua imagem de “amigo dos pobres” também é presente nos relatos que demonstram descontentamento com os muitos anos de tutela do território haitiano por outras nações.

Jean Baptiste Morgan, engenheiro que trabalha como motorista em Porto Príncipe, mostra saudosismo. “Seria bom se todos os ex-presidentes voltassem”, diz o motorista, que não acredita na possibilidade de o ex-ditador governar novamente o país.

Baby Doc foi indiciado pelo Ministério Público do Haiti por corrupção, roubo, apropriação indébita de fundos, crimes que teriam ocorrido durante os 15 anos em que se manteve no poder. 

Sua volta a Porto Príncipe ainda é cercada de dúvidas e ocorre em um momento de instabilidade política devido às suspeitas de fraudes nas eleições.

Nesta semana, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, entregou às autoridades haitianas um relatório com recomendações sobre o processo eleitoral. No entanto, até o momento, o Conselho Eleitoral Provisório não divulgou a decisão de quem irá para a disputa no segundo turno. “O Conselho Eleitoral haitiano é que deve decidir os resultados das eleições”, declarou Insulza ao lado do primeiro-ministro do país, Jean-Max Bellerive.

Os primeiros resultados apontaram a liderança da ex-primeira-dama Mirlande Manigat, com 31% dos votos, seguida pelo candidato governista Jude Célestin, que teria ficado com 22% dos votos, apesar de ter feito a campanha mais cara do país. Já a terceira posição ficou com o candidato Michel Martelly, um conhecido cantor haitiano.

Logo após a divulgação dos primeiros resultados, Porto Príncipe foi tomada por protestos violentos, com queima de pneus nas ruas. Diante das manifestações, o presidente René Préval solicitou à OEA o envio de uma missão ao Haiti para avaliar o processo eleitoral.

*A repórter viajou a convite do Ministério da Defesa//Edição: Graça Adjuto