Da BBC Brasil
Brasília – Em meio à grande incerteza sobre um possível acordo na conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas em Cancun, no México, que termina hoje (16), a área mais promissora é a que trata da preservação de florestas.
As negociações sobre a criação de programas para promover a redução de emissões por desmatamento e degradação (conhecidos pela sigla Redd) em países em desenvolvimento estariam adiantadas e dependeriam apenas de vontade política para serem aprovadas.
No entanto, dificuldades de acordo em outras áreas, principalmente no que diz respeito a um segundo período do Protocolo de Quioto, a partir de 2012, podem acabar descarrilando o tema Redd. Japão, Rússia e Canadá preferem um novo tratado.
Na quinta-feira (9), o diretor-executivo do Greenpeace, Kumi Naidoo, fez um apelo para que isso não aconteça. "Toda esta negociação é sobre um pacote de resultados. Mas temos de reconhecer que um quinto do pacote, se fosse fechado, seria um avanço significativo".
A declaração do ativista, mais acostumado a exigir "ambição" dos países do que frações de avanços, dá uma pista sobre o risco de não se alcançar qualquer acordo em Cancun.
Mesmo a questão do Redd ainda não é um sucesso garantido. Existem dúvidas sobre como deve ser a participação de fundos provenientes do mercado de carbono no financiamento de ações de proteção das florestas.
Alguns países, como a Bolívia, se opõem totalmente a essa participação; outros acreditam que só o mercado deveria financiar projetos Redd. A posição brasileira é de que inicialmente os projetos não dependam de mercados de carbono.
Por outro lado, o Brasil é apontado como vilão na questão das salvaguardas – para proteger direitos de povos indígenas, da natureza entre outros – por se opor a mecanismos de verificação internacional, preferindo relatórios nacionais detalhados.
Apesar das dificuldades, a palavra de ordem na delegação brasileira continua a ser "otimismo cauteloso". Brasil e Reino Unido, a pedido da presidência da reunião, exercida pela ministra mexicana das Relações Exteriores, Patricia Espinosa, intercedem no maior impasse do encontro: a recusa do Japão a se comprometer com um segundo período de compromisso sob o Protocolo de Quioto.
O tratado é o único instrumento internacional já criado para promover cortes de emissões dos gases do efeito estufa e se transformou em questão de honra para muitos países, em sua maioria do mundo em desenvolvimento.
Britânicos e brasileiros tentam encontrar "soluções criativas", segundo um negociador, para fazer com que o Japão aceite fazer parte de um acordo. Até ontem (9), no entanto, sem sucesso.
Mesmo assim, a negociadora-chefe da União Europeia, Connie Hedegaard, manteve o discurso otimista. "Acho que se você puser dez ministros em uma sala fechada e disser: por favor encontrem um acordo, eles saberão o que fazer. Sim, é difícil, mas não é tão complicado assim", disse a comissária europeia.