Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O desabamento ocorrido na tarde de hoje (8), na Vila Matilde, zona leste de São Paulo, pode ter ocorrido por uma série de fatores, entre eles, por ser uma ocupação irregular, com as moradias construídas num solo irregular e sem as devidas condições de tratamento de água e esgoto. A afirmação é do coronel Jair Paca de Lima, coordenador da Defesa Civil de São Paulo.
“Aqui é uma região de solo irregular. As construções foram feitas de modo irregular. As pessoas costumam também jogar a água de uso doméstico morro abaixo, plantaram bananeiras. E teve o agravante da chuva. Tudo isso - a umidade do solo, o tipo de construção irregular, o terreno irregular - levou para que tivéssemos esse desastre no local”, afirmou. As causas do acidente, no entanto, ainda serão analisadas pelos órgãos competentes.
O desabamento ocorreu no início da tarde de hoje numa encosta que fica entre a Avenida Mendonça Drumond e a Rua Fernandes Portalegre. No último número divulgado pela administração municipal, por volta das 20h de hoje (08), dez casas ficaram completamente destruídas, dez caíram parcialmente e mais 45 estão interditadas até o momento. Mas o número pode crescer, podendo chegar a 100 moradias, segundo estimativa do secretário municipal da Coordenação de Subprefeituras, Ronaldo Camargo. Mais de 100 pessoas foram afetadas, de acordo com a Defesa Civil.
Segundo o coronel Jair Paca de Lima, os moradores acionaram o órgão por volta das 9h da manhã. “Chegamos ao local por volta das 10h e começamos as primeiras vistorias. Constatamos alguns imóveis com rachaduras, trincas, afundamentos e portas que não fechavam. Imediatamente fizemos a retirada dessas pessoas”, disse.
De acordo com o coronel, apesar de ter conhecimento de que se tratava de uma área de risco, a prefeitura “não calculava que poderia haver essa movimentação que aconteceu”. “Aqui era uma região sedimentada. Não se calculava que haveria uma movimentação [do solo]. As residências aqui são de construção sólida, material, concreto, vigas, com tudo o que se possa imaginar de uma construção de alvenaria. Até o primeiro momento em que chegamos aqui, nunca calcularíamos que ia acontecer o que aconteceu”, explicou.
A casa de Rosineide Bastos Pinheiro, que fica na parte baixa da encosta, não foi destruída, mas está interditada por causa do desabamento de algumas casas que ficavam na parte de cima. A irmã, Rosangela Aparecida Alves Pinheiro, viu o momento em que as casas começaram a cair. “Ao meio-dia e meia começou a desabar. Foi um estalo como se você pegasse uma madeira e partisse ela no meio. Caiu uma parte e, puf, saiu uma poeira. Aí depois caiu a outra parte. Foi muito rápido”, disse.
À Agência Brasil, Rosineide afirmou que não esperava que algo assim fosse ocorrer. “Fizeram muitas casas lá em cima”, afirmou. Ela que mora no local há 17 anos.
Segundo Fátima Aparecida Ferreira, presidente da Associação Prosperidade e Justiça, que defende os interesses da população da região, as famílias já vinham pedindo a regularização dos imóveis à prefeitura desde 1997, mas não foram atendidas. “Já foi pedida a regularização de tudo. E não é verdade que não tem esgoto aqui. Tem esgoto, água, luz. Não é verdade que somos clandestinos aqui. Pagamos impostos”, disse.
De acordo com Fatima Aparecida, outro pedido das famílias é pela construção de um muro de arrimo. “O maior risco foi muito peso lá em cima. As pessoas não têm ideia de como fazer casa no morro sem engenharia ou planta adequada e vai colocando peso. E aqui era um aterro de lixo antes. Fizeram sobrados imensos lá em cima”.
Segundo o subprefeito da região da Penha, Cássio Freire, a administração municipal fará reuniões para estudar o que será feito agora e pode estudar a necessidade de construir o muro de arrimo. “Continuar do jeito que está não vai continuar mesmo. Essas casas que estão trincadas vamos demolir todas. Não podemos correr riscos”, disse.
Edição: Aécio Amado