Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Um grupo de 30 especialistas se reuniu hoje (24) para definir diretrizes sobre o atendimento cardíaco a pacientes em tratamento de câncer. O encontro definirá, até o fim do dia, um esboço das normas que serão editadas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e deverão estar disponíveis na página da entidade na internet em 40 dias. O trabalho é um dos primeiros do mundo sobre o tema.
Alguns medicamentos usados no tratamento quimioterápico podem desencadear doenças no coração, explicou o cardiologista do Instituto do Coração (InCor) Roberto Kalil Filho. Por isso, é fundamental que haja um protocolo para aumentar a interação entre os cardiologistas e oncologistas. Segundo ele, isso vai permitir “o diagnóstico das complicações cardíacas precocemente”.
A ideia, de acordo com Kalil, é que mesmo quando não for possível evitar os efeitos colaterais, se possa minimizá-los. “Desde o momento em que você pegue esses efeitos colaterais, você vai ou mudar de quimioterápico, ou tratar o coração”.
Desse modo, pode-se evitar o surgimento ou agravamento de doenças cardíacas, como ressaltou o coordenador de Diretrizes da SBC, Jadelson Andrade. Ele lembrou que caso não seja dada a atenção devida ao assunto, um paciente curado de câncer pode morrer por complicações cardiovasculares. “É muito perverso você tratar e curar o câncer e morrer por conta de uma doença do coração”, ressaltou.
Segundo Andrade, a maior atenção ao assunto ajudará a embasar pesquisas para ajustar os tratamentos quimioterápicos, tanto em dosagem quanto em duração, para os diversos tipos de pacientes.
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que esteve na abertura do evento, destacou que o Sistema Único de Saúde (SUS) será um dos grandes beneficiários da formulação das diretrizes. “Nós vamos ser os grandes usuários das diretrizes. Como o SUS é responsável pelo atendimento de praticamente 80% dos tratamentos de câncer no Brasil, essa diretriz vai ser de extrema utilidade na rede de hospitais”.
Andrade espera contar com o ministério para ampliar a distribuição dos novos protocolos. Além disso, ele ressaltou que o documento final será traduzido para o inglês e enviado para o chefe do serviço de cardiopatia do Hospital MD Anderson, no Texas (EUA), Jean-Bernard Durand. A intenção é que a equipe de Durand elabore uma versão para ser distribuída também nos Estados Unidos. “É o Brasil exportando ciência”, disse o coordenador da SBC.
Edição: Graça Adjuto