As vítimas são as mesmas, mas existem diferenças entre pedófilo e abusador

22/08/2010 - 14h51

Leila Santos
Repórter do Radiojornalismo

Brasília - Muitas pessoas fazem confusão entre pedófilo e abusador sexual porque os dois têm como vítimas crianças. A psicóloga e consultora de um programa de enfrentamento à violência sexual infanto-juvenil, Sandra Santos, explica que a diferença existe, e que é importante deixar claro. “Hoje, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define a pedofilia como um transtorno mental que leva ao desejo sexual por crianças. Já o abusador é uma pessoa que pode abusar de crianças e adolescentes, mas nem sempre sofre de patologia."

Sandra Santos afirma que não existe um perfil fixo de pessoas que abusam de crianças e adolescentes. Elas não têm uma cara. “Na verdade, um abusador pode ser circunstancial ou alguém que tem um desejo constante por crianças e adolescentes, como é o caso da pedofilia. Mas, uma pessoa sem nenhum tipo de transtorno pode abusar de crianças e adolescentes. E é aí que reside a grande dificuldade de se identificar um perfil de pessoa que possa cometer abuso."

O diretor de prevenção da organização não governamental (ONG) SaferNet Brasil, Rodrigo Nejm, afirma que pedofilia é crime na internet. Mas é necessário que a sociedade tenha esclarecimento que pedofilia é o nome do transtorno.

“Crime é o comportamento que o sujeito pode ter. Independente de ser pedófilo ou não, a pessoa que cometer qualquer tipo de violência contra a criança tem que ser punida com o rigor da lei. Mas ele não pode deixar de ter tratamento e o direito de se prevenir."

A psicóloga da Polícia Civil de Santa Catarina, Maíra Marchi, compartilha da mesma ideia e salienta que o pedófilo precisa ter a consciência de que sua atitude é criminosa e deve ter o tratamento determinado pela Justiça. “Não se pode dizer que ele tem o total livre arbítrio. Ele precisa de um tratamento psicológico obrigatório como resposta da lei. Um tratamento compulsório por equipe disciplinar, pois tem um quadro mental comprometido."

No entanto, a vergonha impede que muitos pedófilos procurem ajuda. A coordenadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Rosa Farah, desenvolve um projeto de orientação e encaminhamento pela internet. Ela lamenta que o procedimento ainda não seja previsto em lei.

“Esse canal talvez propicie a essas pessoas uma condição de maior sigilo e proteção. E, nesses casos, é possível estimulá-las a buscar ajuda."

Quanto ao tratamento das crianças, o apoio da família é muito importante, na opinião de Rodrigo Nejm. "É fundamental que a família esclareça que a criança foi vítima de violência, que não tem culpa e que é possível superar o trauma a partir dali, em um novo contexto. O tratamento psicológico é importante, mas com o apoio e afeto da família será mais fácil para a vítima reconstruir a vida, sem nenhum estigma”, esclarece.

Para a psicóloga Sandra Santos, o diálogo é o grande aliado para a prevenção, principalmente no que se refere às crianças e adolescentes. “É preciso mostrar para elas que o corpo é delas, é particular, ninguém pode tocar. E se receber determinadas propostas, devem contar para a mãe, para a família, pedir ajuda. Eu acho que a educação é o grande trunfo”, finaliza.

Edição: Andréa Quintiere

 

* Essa reportagem faz parte do projeto da equipe do Radiojornalismo da EBC, vencedor do V Concurso Tim Lopes de Investigação Jornalística na Categoria Especial. Temática: "O Desafio do Enfrentamento à Violência Sexual Facilitada pelas Novas Tecnologias de Comunicação e Informação". A série está disponível em áudio na Radioagência Nacional.