Barreiros, uma cidade tomada pelo lixo

30/06/2010 - 21h11

 

Ivan Richard

Enviado Especial

Barreiros (PE) - Quase 15 dias depois da enxurrada que deixou cerca de 70% da população desalojados ou desabrigados, as ruas do município pernambucano de Barreiros continuam praticamente intransitáveis, com montanhas de barro e lixo espalhadas por todos os lados. A poeira nas vias onde a lama já secou e o mau cheiro quase insuportável obrigam moradores, policiais, homens do Exército e quem trabalha na limpeza a usar máscaras para evitar doenças.

Localizado na divisa com Alagoas, Barreiros sofreu duas tragédias em menos de 15 dias. A primeira, ocorrida no sábado (19), devastou quase todo os órgãos públicos, escolas, casas e o comércio. A segunda, no último final de semana, fez com que novamente as pessoas deixassem o que sobrou das suas casa para fugir da cheia do Rio Una.

Pelas ruas da cidade, é possível ver crianças descalças brincando entre o que sobrou das casas e prédios comerciais destruídos pela enchentes. Perto delas, porcos andam na lama malcheirosa, enquanto tratores e caminhões trabalham nas remoção dos escombros e na limpeza das vias.

A dona de casa Marcilene de Miranda voltou hoje para casa, no bairro Itaperibu, depois de três dias abrigada na moradia de amigos. Ela perdeu todos os móveis na primeira enxurrada e agora terá que começar a limpeza do local pela segunda vez. “Colocamos tudo no primeiro andar. Mesmo assim, a água invadiu. Já havíamos limpado quase tudo e veio a nova cheia.”

A preocupação de Marcilene agora é com a falta de água potável e de segurança. “Estamos sem água para lavar tudo e, à noite, como não tem luz nas ruas, as pessoas estão saqueando as casas”, contou.

O servidor público do municipal Raimundo Bispo também enfrenta uma situação difícil. Como as águas inundaram totalmente a sua casa, Raimundo está com receio até de voltar para ela. “Estamos com medo de voltar para casa. As paredes estão todas rachadas.” Com o futuro incerto, ele disse acreditar na ajuda do governo para retomar a vida. “Vamos esperar a ajuda”.

Um pouco mais adiante, parada em frente à montanha de lixo que se formou perto de sua casa, a aposentada Maria José de Souza pergunta quando o sofrimento vai acabar: “Quando essa rua vai ser limpa para a gente ter condições de arrumar nossas coisas?” Ela contou que teve de subir ao telhado para fugir da enchente. “É muita luta”, desabafa.

Sentado em uma cadeira em frente à sua casa, de bermuda, chinelos de dedo, sem camisa e um chapéu sujo de lama, o aposentado Amaro Ricardo da Silva ainda demonstra espanto com a destruição provocada pela enxurrada. “Moro aqui há mais de 50 anos e nunca tinha visto isso”.

Em meio à destruição, um grupo de bombeiros voluntários se destaca pelo entusiasmo com que ajuda as vítimas das enchentes. “Estamos aqui há oito dias. Já salvamos a vida de várias pessoas, como um funcionário da companhia de energia elétrica que levou um choque e caiu no rio, e uma senhora, um pouco acima do peso, que teve a perna quebrada e não tinha condições de ir ao posto médico”, contou o bombeiro civil Alencar. “Fazemos isso pelo amor de salvar vidas.”

Em Barreiros, a distribuição de donativos, medicamentos e água ficou sob responsabilidade do Exército. O comandante do batalhão, capitão Vieira Bruno, informou que cerca de 2 mil cestas básicas já foram entregues às vítimas das enchentes. A Força Aérea Brasileira (FAB) instalou um hospital de campanha no município.

 

Edição: João Carlos Rodrigues