De férias no Rio, marceneiro brasileiro conta como foi viver a tragédia do terremoto no Haiti

28/01/2010 - 16h18

Thaís Leitão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O marceneiro maranhense Inaldo Castro da Silva, de 44 anos, mora há 15 anos no Haiti e está de férias no Cosme Velho, zona sul do Rio de Janeiro. Em entrevista à Agência Brasil, ele contou como foi a angústia de ficar três dias sem conseguir avisar à família que sobreviveu ao terremoto. Inaldo conta que muito do que produziu nesses anos está debaixo de escombros em casas e prédios da capital haitiana, PortoPríncipe. O marceneiro disse que será necessária a calma de umartesão para reconstruir a cidade.Apesar de ter sido bem tratado pelos haitianos, Inaldo não acredita que vá voltar a morar no país. Quando acabar sua férias, no final de fevereiro, ele pretende ir à Porto Porto Príncipe e procurar a empresa em que trabalhava, para se desligar. Agência Brasil - Como foram os momentos em que ocorreu o tremor? Inaldo Castro da Silva- Foi um susto muito grande. Eu tinha chegado do trabalho havia 20minutos quando começou aquele tremor de terra, tão grande e tão rápido.Dentro de 15 segundos, acabou com a cidade quase toda. Foi muitohorrível. Eu estava no segundo andar e só deu tempo de pegar minhamulher e sair do hotel onde moramos. Fomos para um pátio e ficamos lá,abraçados, sem saber a proporção da tragédia. Passamos a noite toda lá,sem poder entrar no hotel. ABr – E qual é o retrato de Porto Príncipe após a tragédia?Inaldo– A cidade vive uma dor muito grande. Falta água, comida. A ajudachega, mas não é suficiente para eles, porque há muitos desabrigados.Os supermercados foram destruídos, então fica muito difícil começar umanova vida. ABr – Como você conseguiu avisar à sua família que você estava bem?Inaldo– Não conseguia falar com eles. Depois de três dias, eu fui para aRepública Dominicana, terra natal da minha esposa, para dar um sinal devida para eles. Até então, eles estavam sem saber de mim e já pensandono pior.ABr – Por que você decidiu ir para o Haiti?Inaldo– Eu fui pra lá para substituir um brasileiro em uma companhia francesaque, depois, foi vendida para três sócios haitianos. As pessoas gostaramdo meu trabalho e eu fui me adaptando aos poucos. Também comecei atreinar um pouco de orientação, explicar como trabalhar a madeirabruta, como fazer as janelas e portas. ABr – Como os haitianos recebem os brasileiros que chegam por lá? Foi fácil se adaptar à vida em Porto Príncipe? Inaldo- Os haitianos são muito carentes e gostam muito dos brasileiros.Sempre tratam a gente com muito respeito, muito carinho e isso me davamuita alegria. Eles querem sempre aprender com a gente.ABr – Você ainda pensa em voltar para o Haiti?Inaldo - Antecipei minhas férias que seriam em junho evim para o Brasil ver a família. No fim do mês, vou para a RepúblicaDominicana passar mais alguns dias e, só depois, vou para o Haiti paraver com a empresa o que eu vou fazer. Por enquanto é isso, não sei. Agora,só Deus é quem sabe do meu destino.