Haitianos começam a reabrir o comércio em meio ao caos

26/01/2010 - 4h57

Rivadavia Severo
Enviado Especial
Porto Príncipe - A população haitiana continua sem luz e água. Só háenergia elétrica para quem tem gerador próprio e a única luz à noite é a dosautomóveis que transitam pelas ruas ou a de velas. Mesmo assim, aos poucos, os serviços estão sendo retomados. Osbancos começaram a reabrir as portas no sábado (23), o mesmo ocorreu comos supermercados e o porto da capital teve uma parte reativada no último fim de semana.Na rua, o comércio informal ganha cada vez mais adeptos. Barraquinhas vendem de tudo. O clima é de tranquilidade, não há violência e vandalismo. Os incidentes de violência são causados pelaprópria distribuição de ajuda humanitária, feita sem a devida logística, como asprimeiras executadas por militares norte-americanos que jogavam os alimentospara a população, em vez de entregar a ajuda na mão de cada pessoa.Apesar da catástrofe, o povohaitiano tem mostrado resignação e espírito coletivo “Falar de violência quandoos haitianos retiram mercadorias das lojas que ruíram e que as retroescavadeirascomeçam a limpar é, no mínimo, um erro de interpretação”, diz a embaixatriz brasileira Roseana Kipman.Na parte baixa da cidade, que continua totalmente sem luz, um batalhão de desempregados vaga pelas ruas em busca detrabalho. “Um trabalho, por favor” é uma das frases mais ouvidas na capital. O trânsito continua um caos, como era antes do tremor. Na capital, Porto Príncipe, a população refugiada é de cercade 400 mil pessoas que vivem em acampamentos precários.No bairro de Petion Ville, onde residem os ricos que nãofugiram para a República Dominicana, o impacto do terremoto foi muito menor quena parte baixa da cidade. Lá, as construções são mais sólidas, o que ajudoua preservar o casario, explica o subtenente Hélio dos Anjos, da Companhia de Engenheirosdo Exército. Ele conta que no hotel em que estava hospedado na hora do terremoto só uns livros caíram. No bairro, só ruíram os altos murosque protegem os ricos dos pobres. Quando a terra tremeu, esses muroscaíram.A residência do embaixador brasileiro, Igor Kipman, que fica no bairro, nãosofreu estragos. A embaixatriz relatou que os estragos atingiramapenas quadros e louças da casa. Ativista social no Haiti, foi ela quem retirou ocorpo da médica sanitarista e fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, dosescombros da Igreja Sacré Couer, situada na região central da cidade, próximaao Palácio Nacional que também foi abalado.Em favelas vizinhas, no entanto, o estrago foi total. A favela deAngentine foi destruída. A terra cedeu e levou junto osbarracos que desceram o morro. A situação antes do terremoto, tampouco era alentadora emum país onde a classe média é minúscula, apenas 30% têm renda e só ametade desses de forma fixa. Sessenta por cento dos cerca de 9 milhões de haitianos vivem na área rural e o analfabetismo atinge 47% da população.