Geógrafo David Harvey defende transição para modelo anticapitalista

26/01/2010 - 16h08

Luana Lourenço
Enviada Especial
Porto Alegre - Oneoliberalismo não acabou com a crise internacional de 2008, e a possível transição para um modeloanticapitalista só acontecerá com mudanças na relação com anatureza, com as tecnologias, nas relações sociais, no sistema deprodução, e com novos arranjos políticos e institucionais. Odiagnóstico é do geógrafo David Harvey, professor da City University,de Nova York, e nome conhecido do Fórum Social Mundial. Ele participouhoje (26) de debate sobre a conjuntura econômica  mundial dez anos após a primeira edição do evento. “As transformações revolucionárias ainda são possíveis e é imperativo que aconteçam”, defendeu. Harveyfez duras críticas à desregulamentação da economia que, segundo ele,desencadeou não só a  recente crise financeira internacional, masoutras pelas quais o mundo passou nas últimas décadas. “Nos últimos 30 anos, vimoscrises centradas no sistema financeiro, por causa da disjunção entre aquantidade de riqueza em papel e a quantidade de valor real, que é aque possibilita o construir.”O geógrafo apontou que o esgotamento do sistema financeiro é previsível por ser baseado na manutenção de níveis decrescimento insustentáveis. “Leva um pouco de tempo e a bolha vaiestourar de novo. O capitalismo entrou numa fase em que sua tendência àdestruição criativa tem cada vez mais a ver com destruição e menos comcriação”, criticou. A alternativa, segundo Harvey, não seráencontrada isoladamente ou com ataques aos que estão enriquecendo comas desigualdades. “Tem que haver uma transformação social ampla, umprocesso de longo prazo. Podemos criar algo diferente, mas só temos umapequena janela até que isso também seja reabsorvido pela práticadominante”, ponderou. Apesar de sinais de alianças maisconsistentes entre movimentos sociais e organizações não governamentaisem torno de agendas comuns, Harvey avalia que a convergência –necessária para pressionar transformações sociais mais profundas –ainda está distante. “As concepções mentais da esquerda têm quemudar, as universidades têm que mudar. Os estudantes têm que propor umlevante contra o que aprendem na universidade e não tem nada a ver como resto do mundo”, sugeriu.