Moradores de área alagada em São Paulo reclamam providências

19/01/2010 - 9h37

Daniel Melo
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A chuva fina que começou no fim da tarde dessa segunda-feira (18) em São Paulo deixou MariaElza de Alcântara apreensiva. Ela diz que sempre que o céu escurece e os trovõescomeçam, sente pânico e ao mesmo tempo revolta. "A gentetem um governo que parece que não está olhando para a qualidade de vida”.Quando chega o temporal, Maria Elza já está preparada para a voltadas inundações. “As coisas da gente já estão levantadas dentro decasa”. Maria é uma das moradoras do Jardim Romano, bairro da zona lesteda capital paulista que está alagado desde o dia 8 de dezembro.Umaequipe da prefeitura bombeia água das ruas durante 24 horas, o quepossibilita períodos de calçadas secas. Mesmo nesses momentos, o cheirode esgoto permanece no ar. O odor vem da lama verde que cobre o asfaltoe dos bueiros que nunca param de jorrar uma água escura e contaminada. Basta chover para  que a enchente volte. Segundo aprefeitura, o nível do Rio Tietê está acima da região, que é uma áreade várzea.O plano da administração municipal é desapropriar ascasas para construir um parque que deverá ajudar a prevenirnovas enchentes. Ao todo, 232 residências já foram demolidas. Osmoradores, entretanto, hesitam em aceitar as duas opções oferecidaspelo governo: o auxílio-aluguel ou um apartamento da Companhia deDesenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). Até agora, os agentes quetrabalham na região cadastraram 3.206 famílias. Dessas, 955 optaram peloaluguel social e 280 foram transferidas para conjuntos habitacionaisem Itaquaquecetuba, município vizinho do bairro.Os moradores reclamam da localização dasunidades oferecidas. “Os prediozinhos que eles ofereceram lá em Itaquá [Itaquaquecetuba] ninguém quer porque é no meio do mato. A gente temfilho que estuda. A gente trabalha. Condução lá é mais cara”,  afirmouMaria do Carmo da Luz enquanto retirava lama da frente da sua loja dedoces.Os R$ 2 mil oferecidos como aluguel social paraseis meses, incluídos R$ 200 a título de mudança, Maria do Carmo achainsuficientes.  “Anda por aqui e vê se você acha algum aluguel. Aqui nãoacha mais. E outra que R$ 300 de aluguel não dá”, diz.Permanecendoem suas casas, os moradores ficam expostos a doenças, além de ter osobjetos pessoais destruídos pela invasão das águas. “O meu irmão pegouleptospirose e passou uma semana ruim. Febre alta, pressãodescontrolou”, conta José Edilson Oliveira. Ele relata ainda que suamãe, que mora na casa ao lado, perdeu grande parte da mobília naenchente de dezembro.Mesmo assim, Edilson se recusa a deixar o local e questiona asjustificativas do governo para que abandone a casa, onde vive há 17 anos.“Se é área de risco, por que construíram o CEU [Centro EducacionalUnificado]  também?”, pergunta, referindo-se à escola do outro lado da rua.“Para que construir esse monte de prédio?” aponta para o condomínio emfrente. “Quer dizer que é área de risco só para nós aqui? Se é área derisco é para todo mundo”, completa. De acordo com a prefeitura, o centro educacional ou o condomínio não serão removidos.O lado emocional também ajuda a prender as pessoas ao local.“Começar tudo de novo não é fácil. Eu criei meus filhos aqui”,ressaltou Maria Elza.Para fornecer o mínimo de condições aessas pessoas que relutam em deixar suas residências, a prefeituradisponibiliza 30 caminhões e 180 homens. O objetivo é remover do bairro 30toneladas de entulho por dia. Além disso, ficam de plantão equipes doCorpo de Bombeiros, da Guarda Civil Metropolitana e agentes de saúde.