Chile inaugura museu em homenagem às vítimas da ditadura militar

19/01/2010 - 5h09

Renata Giraldi
Enviada Especial
Santiago (Chile) - Depois de 20 anos de redemocratização, o Chile presta umahomenagem às vítimas da ditadura (1973-1990) e suas famílias. O Museuda Memória e dos Direitos Humanos foi construído na capital Santiago. No local há fotografias das vítimas, depoimentos dehomens e mulheres que foram torturados, cartas de crianças a seus paisdesaparecidos e até a reprodução de uma sala de tortura com uma camaelétrica.Como no Brasil, onde as discussões sobre o ProgramaNacional de Direitos Humanos dominam os debates políticos, no Chile otema também é frequente. Recentemente, durante a campanha presidencial,os candidatos retomaram a discussão sobre a revisão da Lei de Anistia. O debate, porém, ainda aguarda um desfecho.Por 17 anos, o Chileviveu uma das ditaduras mais violentas da América Latina. Pelos dadosoficiais, foram 28 mil pessoas torturadas e outras 2.279 desaparecidase mortas. As chamadas comissões de Verdade identificaram 180 crianças eadolescentes assassinados, além de 1.283presos e torturados.Inaugurado no último dia 11, o museu é um espécie de resgate de partedessa história. O local inspira respeito e reverência. São três andares, um deles térreo. No primeiro andar está uma das alas mais chocantes:a reprodução de uma sala de tortura, com uma projeção permanente dedepoimentos das vítimas e detalhes do sofrimento.Paramostrar como eram tomados os depoimentos durante a repressão foicolocada, na sala de tortura, uma cama elétrica. Junto à cama haviauma fiação que era colocada no corpo da vítima, que recebia choques atéconfessar os detalhes que interessavam à ditadura. A cama e o sistemade fiação estão expostos no primeiro andar do museu.Antes,porém, o visitante que for ao museu verá uma exposição comfotografias que mostram rostos e corpos de adultos, jovens e crianças torturados por regimes autoritários em diferentes países, alémdo Chile.Nas fotos, os sinais de agressão aparecem emferimentos e mutilações. No segundo andar do prédio do museu há umaparede cheia de fotos até o teto. Nela, foram colocadas fotografias devários dos desaparecidos e mortos pela ditadura.Duas áreas domuseu se destinam às cartas das crianças aos pais desaparecidos,desenhos reproduzindo as dores e apelos emocionados. “Levaram-me aoregimento para interrogar-me. Não segui estudando. A única coisa quequeria era morrer”, disse David Ortega, na época com 13 anos. Algunsobjetos das vítimas, como óculos, luvas, cadernos e livros, também estãono museu.