Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O infectologista Edmilson Migowski, médico do Corpo de Bombeiros doRio de Janeiro, que já atuou em casos de soterramento e de enchentescom muitas vítimas, fez hoje (17) um alerta sobre a realidade doHaiti, seis dias depois do terremoto que pode ter vitimado mais de100 mil pessoas: “o que há de mais básico e elementar para avida – água de qualidade, saneamento básico evacinação – está comprometido no Haiti."Segundo Migowski, água,saneamento e vacinação – pilares da saúde em qualquer lugar –são hoje no Haiti "carências ainda mais graves do que antes doterremoto, porque trata-se de um país pobre, com uma populaçãohistoricamente desassistida”.Migowski, que atualmente é major da reserva, aponta sobretudo aquantidade de corpos insepultos nas ruas de Porto Príncipe, acapital haitiana, como o maior risco de epidemias de leptospirose,raiva e doenças de diagnóstico menos fácil. “A proliferação deinsetos, principalmente moscas, além de ratos, gatos e cachorros,todos transmissores de males perigosos numa situação como a quevive o país, é mais do que uma ameaça. À medida que o tempopassa, é mais urgente, cada hora, a necessidade de sepultar ouincinerar os corpos que estão nas vias públicas.”Pessoascom problemas de saúde limítrofes também correm mais riscos do quea população em geral, diz o infectologista, citando portadores dedoenças neurológicas, psiquiátricas ou sexualmente transmissíveise outras. “As condições de vida no Haiti não nos permitemimaginar assistência médica pública minimamente confiável”,afirma Migowski, lembrando que, além de "a feitiçaria, como ovodu, ser prática muito popular, existe um arsenal de materiais e depráticas altamente comprometedoras para a vida, na atualsituação”.A imprensa internacional tem repetido osprotestos de feiticeiros que reivindicam a realização dos rituaisfúnebres para as vítimas de sua seita, apesar da impossibilidade depreservação dos corpos em locais e condições adequadas para essesritos.Finalmente, o médico acredita que, mesmo com as ruasda Porto Príncipe livres de todos os cadáveres, as ameaçaspermanecerão debaixo dos escombros, onde as equipes de resgate nãochegaram. “O próprio ar que se respira está contaminado pormicro-organismos que se disseminam em ambientes como aquele. Aspessoas usam máscaras sobre a boca e o nariz não só por causa domau cheiro, mas para evitar a contaminação.”