Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Na segunda parteda entrevista concedida hoje (21) à Agência Brasil (ABr) e à TV Brasil, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o principaldesafio para a economia brasileira, em 2010, será a manutenção dapolítica econômica em meio às pressões por aumento de gastos típicas deanos eleitorais. Ele negou que pretenda concorrer a algum cargo públicono próximo ano e disse que essa postura ajudará a manter a economia asalvo de certas questões políticas.Sobre uma possível saída dopresidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, para disputar aseleições em Goiás pelo PMDB, Mantega afirmou que qualquer ambiçãoeleitoral de Meirelles não representará riscos para a economia.Segundo ele, qualquer nome que assumir o comando do BC darácontinuidade às medidas tomadas nos últimos anos, porque a políticaeconômica é determinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Oministro ainda falou sobre as perspectivas para o país depois de 2010. Paraele, os rumos da economia não devem mudar, independentemente docandidato eleito para suceder o presidente Lula, porque não se muda o que está dando certo e apopulação está comprometida com a atual política de crescimento comresponsabilidade fiscal e transferência de renda.A entrevista também será exibida no telejornal Repórter Brasil, da TV Brasil às 21h.Agência Brasil: Osenhor, até pelo enfrentamento da crise, reuniu certo capital político.Não fica tentado a seguir carreira política, a tentar uma eleição apartir do próximo ano? O senhor é filiado a algum partido?Guido Mantega: Acho que depende davocação das pessoas. Sou filiado ao PT, mas não tenho vocação para essetipo de atividade política. Gosto de ser professor, como era antes deentrar para o governo, e de fazer o que faço, que é mais uma funçãotécnica. Acho até bom que o ministro da Fazenda não tenha funçãopolítica, porque consegue deixar a economia a salvo de certas questõespolíticas. Tenho metas, objetivos, uma estratégia econômica que sigo.independentemente de interesses políticos. É bom até que, numano eleitoral como 2010, tenhamos muito claro qual é a políticaeconômica, que não está sujeita a interesses eleitorais. Vamos aumentaro superavit primário no ano que vem. Não vamos fazer gastos além do previsto no Orçamento. O presidente [Lula] concordou que ogoverno fará um superavit primário de 3,3%. Repetiu ainda hoje para aimprensa. Essa é uma atitude profissional que prefiro manter, semtentar concorrer ao Parlamento, porque não tenho vocação para esse tipode coisa.ABr: Ainda em política, mas também tocando a economia.O que o senhor acha de uma eventual saída do presidente do BancoCentral, Henrique Meirelles, do governo?Mantega: Ele não disse se vaisair, mas se vier a sair não acontece nada. Isso porque quemdetermina a política econômica não é o presidente Meirelles, nem eu. Seeu saísse, seria a mesma coisa. A política econômica édeterminada pelo governo. As medidas anti-inflacionárias, as políticasde crescimento vigoroso, de transferência de renda, de responsabilidadefiscal continuam. Meu antecessor [Antonio Palocci] saiu e eu continuei fazendo a políticade responsabilidade fiscal. Essa não é a discussão. Não farádiferença se eventualmente o Meirelles, com outras ambições políticas,sair. ABr: O sistema de metas [de inflação] continua. O programa de combateà inflação continua, porque essa é uma decisão do governo, não dopresidente do Banco Central. O conjunto do mercado teriacompreendido então que, apesar de [Meirelles] ser um nome importante, apolítica econômica é do presidente Lula?Mantega: Não tenho a menordúvida. A política econômica é do presidente Lula. Ele optou porescolher Meirelles. O presidente certamente escolherá o nome que virápara cumprir aquela política à altura da tarefa que está colocado.ABr: A economia é feita de muitas medidas técnicas, mas também de muita confiança. O senhor acredita que o fato de o presidente ter ido,em determinado momento, à televisão dizer ao brasileiro para comprarcontribuiu com que fatia para esse resultado que vivemos agora? A injeçãode confiança teve que proporção em relação à injeção de recursos?Mantega: Aeconomia não é uma ciência exata. Ela lida com indivíduos, comcomportamento humano. Metade do comportamento se baseia em realidade,no palpável. A outra parte é influência psicológica, segurança. Vocêpode apresentar o melhor plano econômico do mundo, mas, se não houverconfiança de que será um bom plano, as pessoas não vão acreditar. Opresidente Lula ganhou a confiança da população nos últimos anos. O queele falou foi muito ousado. Ele disse que a economia daria errado se aspessoas parassem de consumir. É claro que ele sabia que o Brasil tinhacondições que outros países não tinham. O Brasil não estava nascondições dos Estados Unidos. Ele falou porque sabia que tínhamosreservas, que não tínhamos sido afetados pela crise e que, se o consumose mantivesse, as coisas voltariam ao normal. Foi fundamental a palavrado presidente um ano atrás. A população confiou nele e deu certo.ABr: Para 2010, tudo indica que a economia está garantida. E depois de 2010?Mantega: Apartir de 2010, vamos retomar um ciclo de crescimento econômico queestá começando agora. É um novo ciclo, talvez mais forte que oanterior, de 2003 a 2008. O país está assentado em bases sólidas e, ameu ver, teremos nos próximos anos crescimento em torno de 5% a 6% aoano. Será um ciclo maior do que tivemos até agora. Estou seguro de queentramos num ciclo virtuoso, de investimentos, de expansão, que vaidurar muitos anos. Por isso digo que, no final de 2009, temos boasrazões para comemorar. Passamos pela crise. A população brasileira vaiterminar o ano muito bem. Será um Natal feliz para todos. E se preparem,porque 2010 e 2011 serão anos ainda melhores que o que termina agora.ABr: Existe a possibilidade de o país sair do roteiro, dependendo do resultado das eleições?Mantega: Nãoacredito porque, quanto temos política econômica eficiente, é umaincoerência mudá-la. Não acredito que algum candidato tenha coragem demudar algo que está dando certo. Só se muda o que está dando errado.Muda-se a política econômica quando o país está numa crise, não estácrescendo, tem inflação. Quando tudo corre bem, só se ocandidato for, digamos, louco, o que não vejo no horizonte. Tenhocerteza de que eles darão seguimento à política que estamos fazendoagora, de crescimento forte da economia com responsabilidade fiscal,inflação sob controle e melhoria da condição de vida do povobrasileiro. Quem não vai deixar [o rumo da política econômica] mudar éa população. O povo já aprendeu. Sabe votar. Certamente votará nacontinuação dessa política econômica, seja ela feita por qual candidatofor. Ela exigirá que o candidato se comprometa. Portanto, estoutranquilo em relação ao futuro.