Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O ministro da Justiça, Tarso Genro, disseque não teme uma crise política entre a Itália eo Brasil caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidapela não extradição do ex-ativista e escritoritaliano Cesare Battisti. O pedido de extradição foiapresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo governo italiano.O STF decidiu que Battisti deve ser extraditado, mas deixou apalavra final para o presidente da República. Hoje (19) Tarso Genro citou as declaraçõesde alguns ministros italianos que, segundo ele, deixam claro ocaráter político do pedido. “Eu tenho observado a declaraçãode alguns ministros italianos. São declaraçõesque não só confirmam que é uma questãopolítica entre dois Estados, como também que o Battisticometeu delitos políticos no âmbito daquela violênciaque se desencadeou na Itália naquele período”, afirmou Tarso Genro se referindo aos anos de 1977 e 1979, quandoBattisti teria cometido os crimes pelos quais foi condenado àprisão perpétua. “As declarações demonstram que háuma nítida visão persecutória de algunsministros, de alguma parte do governo italiano. É uma visãomais de vendetta (vingança)do que de cumprimento de pena de algum crime que alguma pessoacometeu há 36 anos”, disse. Tarso Genro foi além, disse que asdeclarações feitas pelos ministros italianos sãogrosseiras e que até autorizariam qualquer pessoa, queestivesse nas mesmas condições do Battisti, a pedirnovamente o refugio político. “Se faltava alguma prova de que o fato épolítico e que existe o interesse persecutório, aspalavras desses ministros, grosseiras muitas vezes, demonstram que atese do meu despacho está correta”, completou.Algumas das declarações queirritaram Tarso Genro teriam sido feitas pelo ministro da Defesaitaliano, Ignazio La Russa. Em novembro do ano passado, La Russa sereferiu a Battisti como terrorista e declarou: “Cesare Battistiserá objeto da minha atenção quando estiver emprisões do nosso país”.Outra declaração que provocou asautoridades brasileiras e chegou a ser citada pelo ministro do STF,Marco Aurélio Mello, foi feita pelo deputado Ettore Pirovano,do partido conservador Liga Norte. Ao comentar o refúgio políticoconcedido por Tarso Genro, o deputado ironizou: “Não meparece que o Brasil seja conhecido por seus juristas, mas sim porsuas dançarinas. Portanto, antes de pretender nos dar liçõesde direito, o ministro da Justiça brasileiro faria bem sepensasse nisso não uma, mas mil vezes”, disse o deputadoitaliano que faz parte da base do governo.Tarso Genro destacou semelhanças entre ocaso do italiano e o de Olga Benário Prestes, militantecomunista alemã, de origem judia, que foi entregue pelogoverno de Getúlio Vargas para forças nazistas. Emorreu em 1942, na câmara de gás no campo deconcentração de Bernburg. “O caso da Olga Benário foi uma decisãotecnicista na época do governo de Getúlio Vargas. Elatinha sido acusada de ações militares e, naquelemomento, o regime da época entendeu que não era crimepolítico. Um raciocínio tecnicista que não levouem consideração a natureza das disputas políticas”,afirmou.“Se existe alguma analogia ou não entreos dois casos eu não seria capaz de responder neste momento,mas que tem uma certa semelhança tem. Contextos históricosnão são iguais, mas o que está se discutindo, emúltima análise, é se um militante de ultraesquerda que aos 22 anos, há 36 anos, em um contexto deviolência, era ou não um militante político. Naminha opinião sim. Pessoas que cometeram atos dessa naturezana Itália estão abrigados hoje em vários paísesdo mundo, inclusive aqui no Brasil”, considerou.