Ivan Richard
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O presidente da Comissão Nacional da Pecuária de Leite da ConfederaçãoNacional da Agricultura (CNA), Rodrigo Sant'ana Alvim, negou hoje (11)que os produtores de leite sejam os responsáveis pela alta do preço doproduto dos últimos meses, que chegou a superar os R$ 3 em algunsestados. Ao participar de audiência pública na Comissão de Agriculturada Câmara, ele disse que o preço pago aos produtores é cerca de duasvezes menor do que valor vendido pela indústria no atacado. Em abril desteano, quando os preços tiveram alta mais acentuada, a relação do que erapago ao produtor chegou a ser 2,7 vezes menor do preço do leite noatacado.Para Alvim, a culpapela alta do preço do leite é da indústria de processamento, domonopólio da fabricação das embalagens de leite longa vida e também dossupermercados. “É preciso que a sociedade brasileira compreenda queprodutor de leite, neste país, não é formador de preço, ele é tomadorde preço. Formam o preço e o que sobra dão para ele. Essa é a realidadee a relação conflituosa que existe dentro da cadeia [produtiva]”.Eletambém criticou o governo, que teria autorizado a importação de leitede países do Mercosul, como Uruguai e Argentina, a preços abaixo dosvigentes no mercado. Para ele, é preciso que os produtores estejamunidos em cooperativas, como ocorre em outros países do mundo, paraacabar com essa distorção.“Os produtores têm que entender queno mundo inteiro a agropecuária é cooperativada e mais ainda o leite”,argumentou. “Se olharmos para o país mais eficiente do mundo, que detémmais de 35% da fatia do mercado mundial, que é a Nova Zelândia, 100% doleite naquele país é [captado] em cooperativas e cooperativas grandes,com escala.”Segundo o presidente da Comissão Nacional daPecuária de Leite da CNA, na Nova Zelândia, apenas uma cooperativacapta 95% da produção de leite. Ele citou também o exemplo dos EstadosUnidos, onde uma cooperativa capta 23 bilhões de litros por ano, o quecorresponde a quase toda a produção brasileira.“Não pode ter indústria?Claro que pode haver, comprando leite, matéria-prima, e os produtoresorganizados. Temos que entender que na pecuária leiteira uma andorinhanão faz verão e catitu fora da manada é comida de onça”, comparou.Alvimafirmou também que a resistência dos produtores de leite no país em seorganizar em cooperativas ocorre devido a experiências fracassadas.Mas, para ele, o fracasso no passado não foi reflexo do modelo e simdas pessoas que estiveram à frente das cooperativas. “Não fomosbem-sucedidos nas cooperativas que tivemos, que chegaram a captar 60%do leite do país por uma questão de gestão. Temos que profissionalizara gestão das nossas cooperativas”, sugeriu.