Cientistas esperam avanços, mas não acreditam em decisão rápida sobre clima

10/08/2009 - 6h59

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Autor deum dos capítulos do Protocolo de Quioto, justamente o quetrata da redução de emissões de gases de efeitoestufa para os países industrializados, o físico LuizGylvan Meira Filho, ex-vice-presidente do Painel Intergovernamentalsobre Mudanças Climáticas (IPCC), acredita que o novoacordo climático global terá que ser bem mais ambiciosoque o protocolo e que o processo de negociação dessemecanismo irá muito além da próxima reuniãoda Organização das Nações Unidas (ONU)sobre Mudanças Climáticas, marcada para dezembro emCopenhague (Dinamarca).OProtocolo de Quioto determina a redução em 5% dasemissões dos países desenvolvidos entre 2008 e 2012, emrelação aos níveis de 1990. Segundo Meira, oacordo é “pífio” do ponto de vista do volume daredução e o regime climático que o complementarátem necessariamente que ser mais rígido. “É umaquestão de números. Quioto disse 'vamos reduzir 5%', oque é preciso fazer agora é reduzir 60%”, compara.“Épreciso fazer algo muito mais ambicioso, é verdade que em umprazo mais longo, mas quantitativamente muito diferente. Isso vailevar algum tempo, não vai ficar decidido em Copenhague”,acrescentou Meira, atualmente ligado ao Instituto de EstudosAvançados da Universidade de São Paulo (USP).Aavaliação de que a reunião de Copenhague seráo primeiro e não o passo definitivo para a costura do novoacordo climático global também é compartilhadapelo físico e professor da USP Paulo Artaxo. “Nãoexiste uma solução fácil. Sabemos o caminho, queé reduzir as emissões. Isso está sendo negociadolentamente, porque a complexidade do tema é muito grande”,afirmou.A quatro meses do encontro de Copenhague, ainda faltam posiçõesmais precisas dos países sobre o que pretendem fazer paraevitar o aquecimento perigoso do planeta, avalia Artaxo. Elecriticou a falta de clareza dos líderes das maiores economiasmundiais, que durante encontro em junho concordaram que um aumento detemperatura em 2 graus centígrados (2°C) é o máximo tolerável, masnão sinalizaram o que farão para alcançar esseobjetivo.“Émuito fácil dizer isso sem dizer como fazer e, principalmente,quem vai pagar por isso. Essa discussão restante vai acontecerna COP-15 [Conferência das Partes sobre o Clima, a reuniãoem Copenhague] e nos próximos 50 anos”, avalia.Mais queconcordar com o limite de aquecimento do planeta em 2° C, ospaíses têm que definir um teto para a concentraçãode gases de efeito estufa na atmosfera, segundo o climatologista epesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),Carlos Nobre. “Esse número hoje é de 450 partes pormilhão (ppm) [40% maior que antes da RevoluçãoIndustrial]. Os países ricos provavelmente vãodefender um número maior, mas a ciência nãoaprova isso”, disse o pesquisador, que é membro do IPCC.Nobre dizestar “moderadamente otimista” em relação aoresultados da reunião de Copenhague, porque, segundo ele, odesafio é muito grande. “Acredito que de lá nãosairão definições líquidas, certas,prontas. Vai demorar mais um pouco, mais umas duas COPs”, avalia.Aperspectiva de mudança da posiçãonorte-americana em relação às mudançasclimáticas – sob o comando de Barack Obama – é umbom sinal, segundo o pesquisador. Os Estados Unidos, únicopaís rico a não ratificar o Protocolo de Quioto,deverão ter um peso definitivo para o sucesso de um novoacordo. “O Obama mostrou liderança. Mostrou uma posturacompletamente diferente de um ano atrás [gestãoGeorge W. Bush]. Mas esse é um processo em etapas”,pondera.