MPF denuncia Dantas e aponta ligação do Opportunity com valerioduto

06/07/2009 - 15h10

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O Ministério PúblicoFederal (MPF) em São Paulo fez uma nova denúncia contra o banqueiroDaniel Dantas e mais 13 pessoas ligadas ao grupo Opportunity, do qualele era controlador. Dantas foi denunciado na 6ª VaraFederal Criminal pelos crimes de lavagem de dinheiro, gestãofraudulenta de instituição financeira, evasão de divisas e crimede quadrilha e organização criminosa, no segundo inquéritooriginado da Operação Satiagraha, da Polícia Federal. O juizfederal Fausto De Sanctis é quem vai decidir se transforma adenúncia em ação penal. Com isso, os denunciados passariam a serconsiderados réus.No primeiro inquérito originado da OperaçãoSatiagraha, De Sanctis condenou Dantas, em dezembro do ano passado, adez anos de prisão por corrupção ativa, pela tentativa de subornarum delegado da Polícia Federal para ter seu nome excluído dasinvestigações da Operação Satiagraha. Também foram condenados oconsultor Hugo Chicaroni e um assessor de Dantas, Humberto Braz. Asprimeiras investigações policiais da Satiagraha foram conduzidaspelo delegado Protógenes Queiroz, sendo depois assumidas pelodelegado Ricardo Saadi.Na denúncia apresentada sexta-feira (3) naJustiça Federal, o procurador Rodrigo de Grandis detalhou sete fatoscriminosos praticados nos últimos dez anos pelo banqueiro e por suairmã, Verônica Dantas, pelo presidente do banco Opportunity, DórioFerman, e por mais 11 pessoas: Danielle Silbergleid Ninnio, quetrabalha na área jurídica do banco; Norberto Aguiar Tomaz, EduardoPenido Monteiro e Itamar Benigno Filho, diretores do Opportunity,Rodrigo Bhering Andrade, diretor de empresa ligada ao banco; MariaAmália Delfim de Melo Coutrim, conselheira de diversas empresas dogrupo; Humberto Braz, ex-diretor da Brasil Telecom; Carla Cicco,ex-presidente da Brasil Telecom; Guilherme Henrique Sodré Martins eRoberto Figueiredo do Amaral, lobistas; e William Yu, consultorfinanceiro.Em entrevista coletiva concedida na tarde de hoje(6), em São Paulo, Rodrigo de Grandis não confirmou se houve pedidode prisão. “Não vou informá-los se o Ministério Público pediua prisão, ou se houve qualquer outra medida de natureza cautelar”,disse o procurador, ressaltando que o inquérito corre sob segredo deJustiça.Entre os sete fatos criminosos, estão os crimesde formação de quadrilha e organização criminosa; gestãofraudulenta (com desvio de recursos da Brasil Telecom para oOpportunity, além de repasse de recursos da Brasil Telecom para asempresas de publicidade de Marcos Valério); três fatos relacionadosa lavagem de dinheiro; gestão temerária (com o banco Opportunitydesrespeitando regras do Banco Central); e evasão de divisas(permitindo que cotistas brasileiros investissem no Opportunity Fund,mantendo recursos no exterior de forma ilegal).Segundo de Grandis, a denúncia observou ligaçõesentre o grupo Opportunity, quando estava no comando da BrasilTelecom, com o “valerioduto”, como ficou popularmente conhecido osuposto esquema comandado pelo publicitário Marcos Valério, querepassaria dinheiro para parlamentares votarem a favor de projetos deinteresse do governo federal. Marcos Valério é um dos réus doprocesso do mensalão, processo que tramita no Supremo TribunalFederal (STF).“Durante o período em que a Brasil Telecom foicomandada pelo grupo Opportunity foram travados contratos depublicidade ou supostos contratos de publicidade. Foram doiscontratos, cada um no valor de R$ 25 milhões [fechados] com aempresa de publicidade DNA e com a SMP&B, que são empresas depublicidade vinculadas a Marcos Valério”, explicou o procurador.De Grandis informou que o MPF pediu cópias do material relacionadoao caso do mensalão ao Supremo. “O material poderia serinteressante para nossa investigação em São Paulo”, disse ele.A denúncia oferecida na última sexta-feira nãodeve ser a última relacionada ao Opportunity. De acordo com oprocurador, há atividades do grupo relacionadas a mineração einvestimentos imobiliários que merecem aprofundamento. “OMinistério Público Federal ofereceu uma denúncia abrangendo umaparte desse inquérito policial. Há necessidade de continuar com asinvestigações”, disse o procurador.Por isso, o MPF pediu a abertura de três novosinquéritos resultantes da Operação Satiagraha: um para aprofundara participação de pessoas que foram investigadas inicialmente, masnão foram denunciadas, como o ex-deputado federal Luiz EduardoGreenhalgh e Carlos Rodenburg, que comanda o braço agropecuário dogrupo Opportunity. O segundo inquérito seria para apurar crimesfinanceiros na aquisição do controle acionário da Brasil Telecom(BrT) pela Oi e o terceiro, para investigar evasão de divisaspraticadas por cotistas brasileiros do Opportunity Fund, com sede nasIlhas Cayman, no Caribe.“Existe possibilidade, no futuro, de seremoferecidas outras denúncias em face de outras pessoas ou mesmodessas pessoas que foram denunciadas agora, por outros fatos”,afirmou de Grandis.Há ainda um inquérito policial da OperaçãoSatiagraha em andamento e que investiga o grupo do megainvestidorNaji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta. Segundo oMinistério Público, esse inquérito voltou à Polícia Federal para“diligências complementares”.O MPF arrolou 20 testemunhas para serem ouvidas nadenúncia. Entre as testemunhas, o Ministério Público propõe ouviro ex-ministro Roberto Mangabeira Unger, que comandou a Secretaria deAssuntos Estratégicos até o início deste mês, e o presidente daSantos Brasil, empresa que opera o terminal de contêineres deSantos, Wady Jasmin.