Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A centenária comunidade quilombola de São José da Serra, localizada em Valença, na região do Médio Paraíba, no interior do estado do Rio, realiza hoje (16) e amanhã (17) a tradicional Festa do Jongo, em comemoração à abolição da escravatura.
A programação do evento, que este ano conta pela primeira vez com o apoio oficial da Secretaria estadual de Cultura, inclui apresentações que celebram a cultura africana, como ciranda, capoeira e maculelê, além da tradicional roda de jongo. Considerada uma das origens do samba, a dança foi trazida de Angola pelos escravos para as fazendas de café da Região Sudeste do Brasil Colônia.
Conforme historiadores, o jongo nasceu para aliviar o sofrimento dos escravos, servindo de comunicação entre eles. Por meio da dança, eram combinadas rebeliões. Seus praticantes também costumavam utilizá-la para fazer chacota dos senhores em banto, idioma africano. Ainda durante a festa, que ocorre todos os anos desde 1984, são montadas no local barraquinhas que vendem aos visitantes comidas típicas e artesanato, como bonecas produzidas com palha de bananeira e de milho. Reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Histórico Nacional Imaterial, a festa do Quilombo São José, que inicialmente era restrita aos moradores, tornou-se um dos maiores encontros de cultura popular do Rio, reunindo grupos de diversos municípios. Aliando tradição e modernidade, em 2004, com o apoio da Associação Brasil Mestiço, o jongo do quilombo foi registrado em um CD-livro, que conta a história da comunidade.O quilombo São José da Serra existe há cerca de 150 anos e é o mais antigo do Rio de Janeiro. Composta por aproximadamente 200 negros integrantes de uma mesma família, todos descendentes de escravos, a comunidade é uma referência pela preservação das tradições africanas e divulgação de seus patrimônios culturais. No dia a dia dos integrantes, estão presentes elementos que reforçam suas raízes. As casas, por exemplo, são feitas de barro com telhados de palha. Ainda são utilizados candeeiros, ferro a brasa e fogão a lenha. A luz elétrica só chegou por lá há cerca de cinco anos. O trabalho conjunto na agricultura de subsistência também faz parte do cotidiano. O vice-presidente da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Rio (Acquilerj), Damião Braga, destacou a importância do esforço para preservar as tradições.“Muitos elementos da cultura e da religião de nossos antepassados já se perderam. Por isso, manifestações que ajudem a promover a preservação da nossa história para as gerações futuras são muito importantes”, destacou.Há dez anos, a Fundação Cultural Palmares reconheceu os remanescentes de quilombos, abrindo caminho para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) desapropriar as terras e doá-las aos jongueiros. O processo ainda está em andamento.