Curso de alfabetização no Amazonas é voltado para o interior e atende indígenas e ribeirinhos

14/05/2009 - 11h01

Amanda Mota
Repórter da Agência Brasil
Manaus - As dificuldades parasuperação do analfabetismo em todo paísse relacionam a motivos diversos. No Amazonas, por exemplo, onde ataxa de 7,8% de analfabetismo é a segunda menor da RegiãoNorte (perdendo apenas para o Amapá), as principaisreclamações da população se referem àinsuficiência do número de escolas para suprir a demandade alunos, tanto no nível fundamental quanto no nívelmédio. A esse problema se soma a dificuldade de reuniralunos em áreas centrais de estudo devido à distância entre as inúmeras comunidades ribeirinhas eindígenas e à falta de estrutura educacional nessasáreas, como a pouca disponibilidade de professoresqualificados.Para tentar evitar, sobretudo no interior, oaumento do índice de pessoas que não sabem ler nemescrever, o governo estadual implantou, em maio de 2003, o programaReescrevendo o Futuro – voltado para a alfabetizaçãode jovens acima de 15 anos e adultos no Amazonas.Ocurso de alfabetização é oferecido nos 62municípios amazonenses e é realizado, ao longo de seismeses, uma vez por semana, geralmente aos sábados e,eventualmente, em feriados. 

Transportede ida para as escolas e retorno para casa, lanche, almoço ematerial educacional são custeados pelo programa.Emmenos de seis anos, o Reescrevendo o Futuro conseguiu alfabetizarquase 151 mil pessoas, incluindo 5.539 indígenas de 34 etnias,em 21 municípios. O programa registra um índice deaproveitamento de 73% (alunos alfabetizados) e evasão de 7%.Cerca de 20% dos alunos do programa não conseguem seralfabetizados.

Osucesso da iniciativa vai render em 2009 para o Amazonas umreconhecimento nacional. Do total de municípios do estado, 44receberão do Ministério da Educação (MEC)o selo de Município Livre do Analfabetismo, conferidoaos que atingem mais de 96% de alfabetização, com basenos dados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE), de 2000.Alémdisso, 18 municípios receberão o selo de MunicípioAlfabetizador, entregue a cidades com menos de 4% de analfabetos.O problema já foi totalmente erradicado nas zonas urbanas de37 municípios.Apesardos resultados positivos, a coordenadora do programa, NazaréCorrea, avalia que ainda existem muitos desafios. Segundo ela,ainda há dificuldades para reunir os alunos no estado paraestudar. Cada um recebe, por mês, um auxílio de R$ 30,como incentivo aos estudos e recompensa pelo dia “perdido” detrabalho.

“Aestratégia é trabalhar com eles durante oito horas, masapenas uma vez por semana. As aulas são aos sábadospara aproveitarmos as escolas vazias. O maior desafio é aresistência que encontramos entre as pessoas que nunca entraramnuma sala de aula”, diz.

O Reescrevendo oFuturo reúne turmas de sete a 25 alunos. Em cada sala de aula,há dois professores. Por ano, o programa conta com o trabalhode cerca de 1,6 mil docentes que recebem um adicionalpelas aulas ministradas.

“Tudoé pensado para garantir o interesse e a permanênciadesse aluno. Os lápis utilizados, na maioria das vezes, sãoaqueles de cera, mais grossos. Como muitos de nossos alunos sãoagricultores acostumados ao trabalho pesado da enxada, eles têmdificuldade de usar lápis finos”, conta Nazaré.

Noinício do programa, em 2003, os municípios de Itamarati e Guajarátinham, respectivamente, 60% e 53% de analfabetos. Eram as piorestaxas do estado, que hoje conseguiu erradicar esse problema nas duas cidades.Em2008, 21,5 mil alunos aprenderam a ler e escrever. No municípiode Tabatinga foram alfabetizados 1.024 alunos, 80% indígenas.Para este ano, a meta é chegar a 38,6 mil alunos. A prioridadeserão os municípios de Ipixuna, Envira e Pauini.SegundoNazaré, o trabalho não termina na alfabetização.“Quando esses alunos saem do programa, começamos um outrotrabalho que é para incentivar o ingresso dessas turmas nasaulas voltadas para EJA [educação de jovens eadultos]. Fazemos por ano oito viagens por município parapreparar os alunos a continuar os estudos após aalfabetização.”